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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Projeto Conversas qu'Eu Verso - Zé Humberto Seguia Com Uma Bolha no Pé




Zé Humberto
Seguia Com Uma Bolha no Pé

Lá vem a troça do Zé
Arrastando multidões
Dançando as ruas do morro
Despindo as emoções
Juntando em festa, um povo
De grandes atribulações. 

Nem parece o menino:
Aquele pequeno Zé
Que arrastado seguia
Com uma bolha no pé
Numa estrada de pedra
Sem qualquer bem, só a fé.

Deixa lagoa de pedra
Aos quatro anos de idade
Na sua memória herdada
Lembra de tal verdade
Da travessia do rio
Rumo à outra cidade.

Numa canoa pequena
Abarrotada de gente
Desafiando o rio
Nadando contra a corrente
Para encontrar um irmão
Que tinha ido à frente.

E dentro de um baú
Trazia tudo que tinha.
Valmir, seu irmão menor
Nos braços de alguém ele vinha
E uma pipoca roxa
No pé de Zé aporrinha. 

O seu pai deixa a esposa
Com seis filhos e se vai
Numa miséria infinita
E toda família ele trai
Abandona o seu lar
Deixa os filhos sem pai.

Rumo à cidade grande
Pra vencer o sofrimento
Assim decide Esmerinda
Sem muito mais argumento
E na casa de uma tia
Zé encontra outro momento.

Alavantu, anarriê
Segue o passeio
É o Arraiá do Zé
Dizendo para que veio
Preservando a tradição
Que o povo trouxe no seio.

Zé chegou a Bom Pastor
Em seu destino primeiro 
Chegando foi ajudante 
De um sensato carpinteiro
Que fabricava carroças
Para ganhar seu dinheiro.

Também fazia torresmo
Para a alimentação
Em uma época sombria
De cruel situação
Em que a sua família
Clamava pelo seu pão.

Ainda em Bom Pastor
Zé conheceu um feirante
Chamado de Ciço Preto
Uma figura marcante
Que lhe ensinou na vida
Uma lição importante.

E foi vendendo verduras
Nas feiras dessa cidade
Onde Humberto aprendeu
Na dura realidade
Que o importante ao homem
É sua dignidade.

Nessa época a sua mãe
Trabalhou de lavadeira
Pro dono da casa Régio
E numa ação bem certeira
Investiu num chão de terra
Para a sua vida inteira.

E outra tia de Zé
No bairro já residia
Morava no Barro Duro
E o morro já conhecia
E foi lá que Esmerinda
Comprou sua moradia.

E assim em Mãe Luiza
Zé Humberto vem parar
Rumo à terra prometida
Na vida recomeçar
Cheio de novos planos
Com um lugar pra morar.

Entretanto  era o começo
De sua nobre jornada
Que através do trabalho
Ela foi edificada
E a sua trajetória
Passa-se a ser traçada.

Zé vendeu tapiocas
Pelas ruas da cidade
O din din, o picolé
Por fim de necessidade
E obter outras rendas
Na nova realidade.

Mas o din din de batata
Zé fala com gratidão
Pois, além de refrescar
Servia de refeição
Na sua lida diária
Por sua alimentação.

Olha o Samba na avenida
Cheio de alegoria
Levando para a cidade
Um instante de folia
É o povo da acadêmicos
Do morro da alegria.

Zé ficando adolescente
Procurou entrosamento
Frequentava a escola
Mas tinha no pensamento
De encontrar na igreja
Um melhor engajamento.

Foi  na igreja e pegou
A fila da comunhão
O padre disse: “menino,
Vá fazer sua lição
Pois aqui só se comunga
Depois da preparação”.

Assim Zé Humberto fez
Começou a se envolver
Aprendeu o catecismo
E passou a perceber
Novas possibilidades
Da vida compreender.

Viu festas de padroeira
Que muito lhe inspirou
E foi no grupo de jovens
Que Zé Humberto atentou
Às batalhas sociais
Que muitas vezes lutou.

A frequência no CEMIC
Trouxe grande aprendizado
Tinha lazer e cultura
Que o deixava motivado
Do esporte à profissão
Também era ensinado.

O CEMIC era um órgão
Público e do social
Que atendia o “menor”
No campo profissional
Cheio de assistencialismo
Porém, foi fundamental.

Nas lutas comunitárias
Zé sempre participou
E na busca por justiça
Muito rápido se engajou
E disse de um episódio 
Que quase morto ficou.

E foi do motel Caribe
Que partiu a invasão
O dono bota uma cerca
Sem ver a preservação
E Zé Humberto foi lá
Tomar a satisfação.

Chegou de câmara em punho
Fotografando o local
Botou a cerca abaixo
Todo cheio de moral
Ele apenas não sabia
Como seria o final.

Chega com os seguranças
Cheio de autoridade
O dono deste motel
Que a terra alheia invade
Aterroriza Humberto
Com bastante crueldade.

Primeiro quebra a câmera
Depois manda refazer
A cerca que pôs abaixo
Para ele aprender
Ameaça dar-lhe um fim
Que ninguém jamais o ver.

E a salvação de Zé
Foi que do nada surgiu
Um fiscal da prefeitura
Que no papo interferiu
Zé Humberto nas carreiras
Rapidinho escapuliu.

Ainda teve um BO
Mas tudo foi resolvido
Em outras causas o Zé
Sempre esteve envolvido
E hoje ele percebe
Que não foi tempo perdido.

E na linha de chegada
Tá o primeiro colocado
Da maratona do Zé
Sendo homenageado
É mais um aniversário
Do bairro comemorado.

Zé Humberto é vidraceiro
E também comerciante
Que garante o sustento
Como fator relevante
Para então se envolver
Noutra causa importante.

E alguns de seus projetos
São eventos pontuais
Como o Arraiá do Zé
E a troça nos carnavais
Tem a corrida rústica
E ainda outros mais.

Às vezes é candidato
Para ser vereador;
E na política do bairro
É grande articulador
Outras causas sociais
Sempre é apoiador.

Do passado traz a luta
Como sua inspiração
Por uma praia de todos,
Pela partilha do chão
Na conquista de acessos
Que indiquem a direção.

Zé construiu sua história
Casou com Ana Maria
Nasceu Caroline e  Karol
As fontes de alegria
Que na linha do seu tempo
Forjam a noção de família.

O sonho de dias melhores
Para a comunidade;
A procura de justiça
Em toda sociedade
É o que motiva Humberto
Em sua simplicidade.

Com uma bolha no pé
Zé enfrentou um rio
Vendeu tapioca e picolé
Venceu mais um desafio
E agarrado na fé
Vem preenchendo o vazio. 

Esse poema pertence
Ao “Conversas  qu’Eu Verso”
Projeto que faz contar
Sobre um povo diverso
Que conta suas verdades,
Desvenda seu universo.

Wilson Palá 


Projeto Conversas qu'Eu Verso - Lindalva Batalhadora




Lindalva Batalhadora: Simples, Feliz e Guerreira.


Foi na década de noventa
Do ano noventa e um
Que em Mãe Luíza chega
Sem maiores zum, zum, zum
Uma pessoa do bem,
Uma pessoa comum.

Ela veio acompanhada
De um homem e dois rebentos
Vindos de cidade Nova
Em busca de novos ventos
Da vida que deixa atrás
Só trouxe os pensamentos.

Alguns desses pensamentos
Nem vale à pena lembrar
Pois transporta para instantes
Difícil de encarar
Porém faz a história
Que se precisa contar.

No dia 08 de julho
Dona altiva e Reinaldo
Ganharam uma missão
Pra dá conta do recado
De criar mais um rebento
Que no ventre foi gerado.

Nas terras de Acari
Essa criança chegou
O seu pai e sua mãe
Nem sequer a registrou
E com dois anos de idade
Para um amigo a doou.

Esse amigo de Reinaldo
Queria poder cuidar
Da filha de D. Altiva
Então sem pestanejar
Reinaldo fez sua filha
Outro destino tomar.

D. Juvita Pereira
Ela nunca se casou
É filha de João Lourenço
Que a menina adotou
Por ser ela moça velha
Com a criança ficou.

A vida dessa criança
Dentro do seu novo lar
Não era feito de luxo
Nem podia estudar
Apenas ela sabia
Que tinha que trabalhar.

Não estudou só por que
Nunca fora registrada.
D. Juvita, moça velha
Não era mulher casada
E não assumiu como filha
Apenas como afilhada.

Já com dez anos de idade
Muita lenha carregou
Latas d’água na cabeça
Muitas vezes ela levou
E essa é a lembrança
Da infância, que ficou.

E na sua adolescência
O primeiro namorado
Que fazia locuções
Pra sempre será lembrado
Pois o sentido do amor
Por ele foi despertado.

Até dezenove anos
Essa mulher conviveu
Sob a guarda de Juvita
A quem o seu pai lhe deu
Mas tudo modificou-se
Quando Lourenço morreu.

Na verdade essa tutela
Não foi bem a adoção
Era mais para empréstimo
Sob a tal condição:
Se seu Lourenço morresse
Havia devolução.

A sua irmã mais velha
Por Fátima é conhecida
Foi bater na Paraíba
Para a missão ser cumprida
De encontrar a Lindalva
E dar rumo a sua vida.

O ano era oitenta
Quando o fato aconteceu
Lindalva era doméstica
Vivia em imenso breu
Quando que sua irmã
Um novo instante lhe deu.

E pra casa de seu pai
Ela, outra vez, voltou.
Pensava em ser feliz
Por tudo que já passou
Mas quando sentiu na pele
Logo se decepcionou.

Sua família queria
Faze-la de empregada
Carregar água nas costas,
Limpar tudo era obrigada.
E por não aguentar mais
Ficou muito revoltada.

E numa briga ferrenha
Seu pai quebra uma cadeira
Nas suas costas, coitada.
Marcou-a na vida inteira
Desse dia em diante
Deixa de marcar bobeira.

E sua irmã, outra vez
Uma proposta lhe dar
De ir para a capital
Para poder trabalhar
Numa casa de família
Que estava a precisar.

E sem pensar duas vezes
Bem depressa, ela aceitou.
Arrumou as suas coisas
E para Natal viajou
Numa nova aventura
Que até hoje durou.

E foi no bairro do Tirol
Sua primeira moradia
Para a família Miranda
Trabalhava noite e dia.
Nessa época conheceu
Quem logo namoraria.

Um namoro proibido
Porém, avassalador
Que traz um filho pro mundo
Com alegria e com dor.
Sua vida se transforma
Vive entre o ódio e o amor.

Da residência em Tirol
Muda pra Cidade Nova
Numa casa alugada
Mais uma vez se renova
Para cuidar do seu filho
Embora à dura prova.

E desse bairro ficou
Por quatro anos morando
Cuidava do seu rebento
Como, também trabalhando.
E lá nasce uma das filhas
E a família aumentando.

Nesse período, Lindalva
Precisava de dinheiro
À procura de trabalho
Encabeçou o primeiro
E trabalhou por seis meses
De servente de pedreiro.

Com um filho e uma filha
Tudo ficou diferente.
O seu companheiro define
Uma situação pendente
E partem pra Mãe Luíza
Encontrar outro ambiente.

Nesse bairro, mais dois filhos
Um menino e uma menina
Fecha a procriação
E a família determina.
E vem algo inesperado
Que ela nunca imagina:

O seu companheiro morre.
E Linda fica sozinha
Com quatro filhos pequenos
Quase dois anos, a novinha;
Outro quatro, a outra sete;
E nove, o mais velho tinha.

Do mais velho pro mais novo:
Tem João Paulo e Juliana
Jussiê, Maria Helena
Formam um quarteto bacana
Frutos de Santos e Lindalva
De uma relação profana.

Depois da morte de Santos
Veio a dificuldade.
Os cuidados, a solidão,
A cruel realidade
Da qual Lindalva enfrentava
Da triste fatalidade.

Os problemas, a tristeza
Precisava-se resolver
E através do trabalho
Lindalva foi perceber
Que a vida continua
E assim tinha que ser.

Continuou nas faxinas
Com mais determinação
Fez almoço, fez quentinhas
Só não juntou papelão
Vendeu picolé na praia
Pra não faltar o seu pão.

Seu trabalho com faxinas
É muito profissional
Sempre amiga das patroas
De forma bem pessoal
Conversa, brinca e respeita
De um jeito especial.

Lindalva tem uma máxima
Que leva no dia a dia:
“Deus, saúde e dinheiro
O resto depois se cria”
E com esse pensamento
Muita coisa acontecia.

Lembra que certa vez
Que procurou se informar
Se havia uma vaga
Pra sua filha estudar
Alguém logo pergunta
Se queria trabalhar.

E foi na casa crescer
Que esse fato aconteceu
E ela de prontidão
Positivo, respondeu
Depois D. Elizabeth
Esse emprego lhe deu.

Um trabalho que lhe trouxe
Amizades importantes
Pessoas que, para ela
Na vida são relevantes
Sempre a respeitaram
Sendo significantes.

Cita o padre Sabino
Josélia e Edilza também
Rose, Jailde e Patrícia
Um povo que ela quer bem
E muitos outros amigos
Que no caminhar se têm.

Essa pessoa sincera
Que adora a natureza
Detesta humilhação
É amante da franqueza
E diz que estar com o mar
Alivia as impurezas.

Lindalva batalhadora
Simples, feliz e guerreira
Mãe, que faz o que pode
Pra ser firme, verdadeira
Vive do seu trabalho
Adora ser faxineira.

Uma profissão: faxineira.
Um homem sábio: Silvamar.
Uma viagem: de avião.
Os seus sonhos: estudar
E ajudar ao próximo
O seu sonho encontrar.

Projeto “Conversas qu’Eu Verso” - Bira: O Vendedor de Frutas




Bira: O vendedor de Frutas





No ano sessenta e três
Dia quinze de janeiro
Nasce em Canguaretama
Município brasileiro
De dona Luíza Lourenço
O quarto filho herdeiro.

Ubiratan Lourenço de Mendonça
Que por Bira é conhecido
Em sua primeira infância 
Foi um garoto sabido
Vivendo de lá pra cá
E muito ter aprendido.

Já a partir dos dez anos
Em Mãe Luíza ficou
Pra aproveitar a beleza
Que nessa terra encontrou
Camboim e maçaranduba 
E até ubaia chupou.

Descia de tábua de morro
Pescou de linha de mão
Tomou água de cacimba
Apanhou no garrafão
Mesmo criado nas regras
Gozou da ocasião.

Estudou no grupo velho
Pra aprender a leitura
Mas foi na praça do parque 
Que fazia travessura
Era onde a garotada
Vivia de aventura.

Nesse parque existia
Noção de comunidade
Ás vezes armavam um circo
Para a teatralidade
Depois virou um campinho
Sem ver continuidade.

Vem a igreja católica
Toma conta do lugar
Acabou-se a brincadeira
Quem quiser que vá rezar
E Mãe Luíza perdeu
Um lugar para brincar.

Mas o danado do Bira
Nem sempre estava brincando
Mesmo antes dos dez anos
Vivia a terra arando
Carregava água e lenha
E muitos tocos arrancando.

Já morando em Natal
E em sua adolescência
Os trabalhos continuam
A mãe lhe deu a decência
Sendo sempre pai e mãe
Ensinou-lhe competência.

E Bira continuava
Seus serviços informais
Os balaios dos mercados
Não se esquece jamais.
Sem falar que trabalhou 
Nas vendagens de jornais.

Bira diz que antigamente
Era escasso o alimento
Mas era bom de viver
Sem muito aborrecimento
Faltava o que comer
E lembrou-se de um momento.

Bira, Jorge pintor,
João Bolinha e Rabichola
Saiam com os seus sacos
Vasilha, plástico e sacola
Em busca da diversão, 
Da xepa e da esmola.

Nessa época em Mãe Luíza
Era difícil viver
Muitas famílias humildes
Precisavam se manter
E pedir xepa era a forma
Da barriga abastecer.

Bira falou dos balaios
E de um tempo passado
Quando pra fazer compras
Era muito limitado.
Nos mercados de Petrópolis
Que tudo era encontrado.

E foi lá que Ubiratan
Junto com a garotada
Do bairro de Mãe Luiza
Deram aquela trabalhada
Todas as sextas feiras 
Iniciavam a jornada.

“Carregavam os balaios”
Com as compras dos feirantes
O trabalho era pesado
Mas muito gratificante
E naquela época foi
Um serviço importante. 

Então chega o “Minipreço”
E depois o Nordestão
Foi ali que os balaieiros
Ficaram em extinção 
Sendo preciso encontrar
Logo, outra ocupação.

Porém, nem só de trabalho
Bira passava os dias
Tomando tronco de homem
Mais aventura queria
E no cinema do centro
Foi um lugar que ele ia.

De noite via os filmes
Esperava o sol raiar 
E correr para o mato
Pra no cipó balançar. 
Brincar de Tarzan no morro,
Bira sempre irá lembrar.

Bira disse outras formas
De encontrar diversão
Não perdia um “assustado”
Em qualquer ocasião
Foi onde a turma dançou
Do rock ao baião. 

Os assustados eram festas
Na casa de um conhecido
Que tinha uma radiola
Ou então se conseguido
Emprestada com um colega
Pro som ficar garantido. 

Cada um levava um disco
Pra na viola tocar
Um petisco e a bebida
Não poderia faltar
O resto era só festa
Até o sol esquentar.

Foi nessa época que Bira
Conheceu a sua amada
Divalda é o seu nome
E iniciou a jornada
De uma nova geração
Que estava pra ser traçada.

Hoje é pai de quatro filhos
E diz com muita razão
“Dois filhos são biológicos
E dois são de coração
Mas os quatros são os frutos
De uma mesma criação”.

Ubiraci, Itamira,
Jandson e Biranildo
Todos são filhos de Bira
E todos são preferidos
É assim que ele pensa
Assim que foi resolvido.

Chega o serviço militar 
Ainda adolescente 
Agora a sua rotina
Ficava mais diferente
Por quatro anos seguidos
Da base não foi ausente.

Desde menino buchudo
Em Canguaretama, ainda
Olhava os aeronautas 
“Achava a coisa mais linda”.
Esse desejo de Bira
Na sua infância não finda.

Serviu na aeronáutica
Quando marmanjo ficou
E uma das aventuras
Que Bira logo lembrou:
Foi Fernando de Noronha.
Primeira vez que voou.

Nessa época o arquipélago
Pertencia ao nosso estado.
Para uma pista de pouso
Bira foi escalado
Pra ajudar na construção
Naquele lugar encantado.

Sai do serviço militar
Construindo esperança
Seis meses antes da baixa
Começou uma poupança
Pra montar o seu negócio
E sair da ordenança.

Até lhe ofereceram
Na policia militar
Um trabalho garantido
Bastava apenas afirmar
Bira escapuliu
Sem o convite aceitar.

Pois um comércio próprio
Ele tinha planejado
De vender plástico na feira
Bira havia pensado
Que vasilhas pra comida
Venderia um bocado.

Na entrada da São Paulo
A feira se iniciava
Mas o negócio com plásticos
Aos poucos se acabava
Ele achava muito entulho
Toda hora que o guardava.

E partiu para as verduras 
Que logo viu resultado
Tudo vendia com força
Mas houve um desagrado:
Por muitos comerciantes
Seu ramo foi invejado.

Das verduras desistiu 
E nas frutas iniciou
Pois começou a dar certo
De lá pra cá não parou.
E muitos tipos de frutas
Na sua banca passou.

Ubiraci e Biranildo
Saiam com um carro de mão
Abarrotado de frutas
Para qualquer direção
Pelas ruelas do bairro
Gritando: “olhem o mamão”!

Até que um belo dia
Um ponto fixo encontrou.
Lá nos idos de oitenta
Sua banca aterrissou
Na calçada da escola
E até hoje ficou.

Bira se fez amigo
De toda população
Brinca com todo mundo
Sem deixar sua função
Como vendedor de frutas
Cheio de dedicação.

Assim findo esses versos
Sem invenção, nem mentira 
De uma história real
Que não bota, nem se tira
Pois conta parte da vida
Do nosso amigo Bira.

Esse poema pertence
Ao “Conversas qu’Eu Verso”
Projeto que faz contar
Sobre um povo diverso
Que conta suas verdades,
Desvenda seu universo.


O Passo e o Rio



O Passo e o Rio

Literatura de cordel : Wilson Palá

O projeto Vira Vida
Propõe um enfrentamento
Do indivíduo com o bairro
Para o entendimento
Do saber e identidade
Que gera o pertencimento.

E a partir da procura
Por um lugar garantido
Na inclusão social
Com um estudo dirigido
Para poder encontrar
O trabalho pretendido

Adolescentes e jovens
De maneira especial
Serão sim, estimulados
E como meta principal
Serem os protagonistas
Da vida e do social.

E no contexto em que vivem
Buscar identificar
As suas adversidades
Para estratégias criar
Promovendo as mudanças
No agir, no transformar.

Com trabalho em equipe
Troca de experiência
Assim que se fortalece
No sentir, na consciência
Que faz a integração mútua
Para uma nova vivência.

Arregaçaram-se as mangas
E a ideia surgiu
Uma equipe formou-se
Um plano constituiu
De uma intervenção
Que para o “Passo” seguiu.

Assim, o Passo da Pátria
Foi o lugar escolhido
Pra receber a ação
E muito bem merecido
Pois os jovens moradores
No Vira Vida tem ido.

Seguimos pra alicerçar
Uma grande construção
Para poder entender
A devida relação
Que o homem tem com o rio
Referente a profissão.

O Passo da Pátria é
Zona privilegiada
Tem no quintal, um rio
Que deu início a jornada
Da grande população
Da margem leste encontrada.

Já teve um forno de lixo
Cremadouro da cidade
Onde surge o catador
Com sua necessidade
De construir a sua história
Naquela localidade.

De pôr do sol radiante,
De um rio provedor
Que dá sustento diário
Ao homem pescador
Do caranguejo do mangue
Ao peixe salvador.

E é esse o cenário
Que nessa localidade
Toda pesquisa atua
Querendo encontrar verdade
Saber do pertencimento
Do rio e a comunidade.

E com esse pensamento
Nos surgiu um marceneiro
Que há mais de quarenta anos
Vive nesse paradeiro
Consertando embarcações
E do rio fez dinheiro.

Senhor Francisco Gregório
Que os seus filhos criou
Dos frutos daquele rio
Que no trabalho enfrentou
Com muito orgulho nos fala
De tudo que conquistou.

Já tem seus filhos formados
E fala com precisão
Que são frutos do trabalho
E muita dedicação
Da arte de marceneiro
Que do rio tirou o pão.

A juventude entendeu
Com essa explicação
Que o rio além de belo
É fonte de profissão
E dá sustento às famílias
Na hora da precisão.

Quando o apito do trem
Desviou o pensamento
Nos levou a refletir
Sobre um outro momento
Que na cultura do bairro
Causa pertencimento.

O trem que vem e que vai
Que diz a hora e indica
Que quando chega, alguém vai
Que quando vai, alguém fica
Numa rotina diária
Que muito significa.

Aproveitamos a partida
Daquele trem pontual
E fomos ao encontro
De um ator principal
Que do rio traz o peixe
De forma profissional.

Nas ruas estreitas do bairro
Partimos em direção
Da casa do pescador
Que do rio tira o pão
Quando que no caminho
Tiramos outra lição.

Que foi uma caminhada
Com muita tranquilidade
Os moradores mostravam
Tamanha simplicidade
E o medo inicial
Perdera a veracidade.

E nesta pequena rua
Conseguimos encontrar
Seu Genilson e D. Ana
Que fomos logo abordar
Querendo entender qual é
O sentido de pescar.

O seu Genilson cansado
Voltava da pescaria
Passaram a noite em claro
Na lida do dia a dia
E D. angélica com peixes
Uma encomenda faria.

A sua filha Thamires
Que frequenta o Vira vida
Ao seu pai convenceu
Encontrar uma saída
Pra conversar um pouquinho
A importância da lida.

D. Angélica saiu
Para o peixe entregar
Senhor Genilson, ali mesmo
Começou a conversar
Depois fomos a sua casa
Ver a rede de pescar.

Passamos então pelo o rio
Onde mostrou a canoa,
Falou da rede e do peixe,
Quando a pesca é ruim ou boa
Ainda deu tempo aos olhos
Olharem o rio à toa.

Na sua casa chegamos
Com certa ansiedade
Para ver as suas redes
E conhecer a verdade
Como vive o pescador
Naquela localidade.

“Quando o mar não tá pra peixe
Não dá pra negociar”
Assim falou seu Genilson
Quase a se preocupar
Sorte que um emprego
Já estava a acertar.

Mostrou o equipamento
Para a sinalização,
Do projeto “Deus é bom”
Sua nova embarcação
Disse do empreendimento
Com muita organização.

Tem caixas para o pescado
Instrumento de pesagem
Lugar pra conservação
E também a embalagem
O seu Genilson agora
Quer melhorar a imagem.

Tá construindo a canoa
Com vela, convés e motor
Para poder ir mais longe
Como empreendedor
E navegar outros mares
Igual um desbravador.

Porém a nossa equipe
Conseguiu compreender
A força daquele homem
Que batalha pra viver
A sua sabedoria
Para na vida vencer.

A equipe se muniu
Com toda informação
Do trabalho de Genilson
E sua situação
Para assim compreender
Qual do rio a relação.

Através de entrevistas
E de áudio visual,
Fotografias e escritos
Juntou o material
Pra analisar o assunto
Que é a meta principal.

Descobrimos que o rio
É rico o suficiente
Pra dá sustento ao povo
Que trabalha firmemente
Mas é preciso esperteza
Ao nadar contra a corrente.

Precisa dedicação
E certo investimento
Para pescar e vender
Garantindo o alimento
E ter política voltada
Para esse segmento.

Algumas lições de vida
Desse trabalho surgiu
Buscando a identidade
Pertencimento se viu
E muita satisfação
De andar no “Passo” existiu.

O projeto vira vida
Rega desta semente
Que faz crescer a família
Que respeita o ambiente
Dentro da diversidade
Para um pensar consciente.

Com estas intervenções
Dentro da comunidade
Aprende-se a conviver
Com outra realidade
Para o querer ser
Entrar em afinidade.

E esses versos concluem
A etapa inicial
Do Projeto “O Passo e o Rio”
De forma especial
Que dá a deixa ao novo
Para um grande final.

Wilson Palá
18/11/14