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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A Lenda do Tesouro da Alma

        









Dois adolescentes, Zé Doidão e Zé Mané, na madrugada em que completam 14 anos, têm o mesmo sonho com uma alma penada que lhes oferece as pistas para encontrarem um tesouro escondido. Mesmo sem se conhecer eles encontram-se e se envolve em uma aventura cheia de desafios. Penetram numa lenda local e terminam sendo engolidos pela própria história. Poesia de Wilson Palá e ilustração de  Marcellus Bob e Lennon Lee.




         A Lenda
do Tesouro da Alma

Havia numa cidade
Um bonito povoado
Cercado de dunas e mar,
Árvores por todo lado.
De tanta beleza junta
Parecia encantado.

Por falar em encantamento,
Em uma lenda local
Contada na oralidade
Tinha algo especial:
Que num lugar escondia
Um tesouro sem igual.

Toda população
Essa lenda conhecia
De uma alma penada
Que no sonho aparecia
E dizia onde encontrar
O tesouro que escondia.

Quando era o momento
Da sua aparição
Sempre pra duas pessoas
Indicava a direção.
Pois queria que houvesse
A grande competição.


Não se sabe realmente
Se alguém já encontrou
Esse tesouro escondido
Que a alma revelou
Só sabe-se que muita gente
Por ele já se agarrou.


Em uma casa modesta
Que dava pra ver o mar
Dormia o Zé Mané.
Um menino singular.
Sonhando com algo estranho
Sem conseguir acordar.

Zé Mané completaria
Quatorze anos de idade
Fora dormir logo cedo
Com muita ansiedade
Pra de manhã festejar
A sua natalidade.


Em outro ponto dali
Num lugar afastado
Morava o Zé Doidão
Garoto muito agitado.
Também seus catorze anos
Seriam comemorados.

Enquanto eles dormiam
Algo estava acontecendo:
Um, sonhava com o outro,
Um subindo, outro descendo.
Como em uma gangorra.
E uma voz foi dizendo:

Zé doidão e Zé Mané
Vocês terão que encontrar
O tesouro escondido
Que acabo de lhes dar.
Comecem amanhã bem cedo.
Assim que o sol raiar.


Esse tesouro se encontra
Entre a terra e o luar
Fonte de água e comida
No fruto que tem pra dar
A língua solta não fala
Só quando o dedo apontar.

Não haverá qualquer mapa
Para o caminho indicar
Apenas os desafios
Para a busca complicar.
Mas quem seguir direitinho
Um tesouro vai achar.


Os dois, inda dormindo,
Perceberam uma imagem
Com quatro pegadas indo
Iniciar a viagem.
Apenas duas voltando
Revelando a mensagem.

Os jovens logo acordaram
Suados e ofegantes
Já haviam despertados
Embora inda distantes.
Tentando compreender
Os seus sonhos intrigantes.

Zé Mané lembrou a escola
E correu para o banheiro
Já estava atrasado
Sempre chegava primeiro.
Mas o tesouro da alma
Invadia lhe por inteiro.

Pensava em seus botões
Naquela triste mensagem
Que os dois tinham partido
Só um voltou da viagem.
Também pensou que seu sonho
Não passasse de bobagem.

Pediu a benção a mãe
Depois de tomar café.
Ela deu os parabéns
Ao filho Zé Mané
Ainda recomendou
Que ele tivesse fé.

E pra escola correu
Perguntando para o tempo:
Qual o tesouro da alma?
E o seu envolvimento
Com esse desconhecido
Que não sai do pensamento?

Zé doidão em sua cama
Ainda estava encucado
Pensando naquela imagem
Que alma tinha mostrado.
Quando pensou no tesouro
Esqueceu-se do recado.

Pensou logo no dinheiro
Que iria conseguir,
Em comprar carros e motos,
Mulher pra se divertir
E foi procurar uma arma
Para a viagem seguir.

Encontrou no seu armário
Dentro de uma caixinha
Um punhal, uma soqueira,
Uma faca na bainha.
Procurou por um boné
E saiu para a cozinha.

Ainda muito confuso
Um cafezinho tomou
Da cara de Zé Mané
Tentou lembra, não lembrou
E decidiu ir em busca
Do tesouro que sonhou.

Sua mãe apareceu
Já gritando: “Zé Doidão”
Faltou aula outra vez?
Menino, preste atenção!
Se você não estudar
Vai viver sem direção.


Minha mãe não se preocupe
Que eu já sei me cuidar
Vou sair numa aventura
E não sei quando voltar
Pois um tesouro perdido
Estou indo reclamar.


Encheu de biloca o bisaco
E pegou a baladeira
Pediu a benção a mãe
Saiu pela porta traseira
Pra ir encontrar o tesouro
Que sonhou a noite inteira.

                                Zé Mané na internet
Correu para pesquisar
Procurando descobrir
Onde era o lugar
Que guardava o tesouro
Visto no seu sonhar.

Zé Doidão subiu o morro
Na lagartixa atirou,
Espantou dez passarinhos,
Duas árvores devastou,
Quebrou a pipa de um boy
Mas nada ele encontrou.

Ele apenas estava
Tentando se concentrar
Querendo achar a resposta
Para poder encontrar
O tesouro escondido
Entre a terra e o luar.

Entre a terra e o luar,
Fonte de água e comida,
Fruto, língua e dedo,
Até pesquisou morte e vida
No buscador do google
Zé buscava a saída.


A linha do horizonte
E espaço sideral
Luz do farol, Mãe Luiza,
Árvores, frutas, afinal
Foram algumas respostas
Do servidor principal.

Em alguns site encontrou
Fatos e/ou relação
Quanto a língua solta,
Terra, luar e sertão
Mas a charada ficou
Ainda sem solução.

Zé Mané sem ter respostas
Sonho fora pesquisar
Querendo compreender
Por que ter que encontrar
Esse tesouro, que a alma,
Queria presentear?

Descobriu que com botijas
Muitas histórias existiram
Muitos enriqueceram
E outros também partiram
Na cola de um tesouro
E ninguém jamais os viram.


Zé desconectou-se
E saiu determinado
A encontrar o tesouro
Porém, foi interditado
Nem deu tempo de falar
Quando foi bombardeado.

E uma dúzia de ovos
Na sua cabeça caiu
Cantando os parabéns
A galera invadiu
E Zé que tava atrasado
Chateado escapuliu.

Zé Doidão inda no morro
Encontrou Tico e Dudé
Chamando pra ir à praia
Para pegar jacaré
Com um toco de isopor
Que tomou de Canindé.

Ele contou pros amigos
Sobre o tesouro escondido
Que alma o presenteou
E a um desconhecido
Chamado de Zé Mané,
E do segredo envolvido.

Zé doidão achava que
Entre a terra e o luar
Só podia estar suspenso
Pendurado em algum lugar
Ou então num avião
Que no céu fosse passar.


O que Zé doidão queria
Era de tudo esquecer
E correr para a praia
Pra na onda se meter
Com o isopor surfar
Do tesouro, nem saber.

Pois Zé Mané para a praia
Escapuliu na carreira
Pra se banhar dentro d’agua
E livrar-se da sujeira
Dos ovos do parabéns
Quebrados na brincadeira.

Clara e Pedro Paulo
Decidiram procurar
Saber por que Zé Mané
Não tava aberto a brincar
E ficando chateado
Saindo sem conversar.

Correram atrás de Mané
Para falar e saber
O quê que lhe preocupava
Pra ajudar resolver.
E seguiram no caminho
Que com a praia vai ter.


E no morro do farol
Mané desceu na carreira
Para chegar lá na praia
E lavar toda sujeira
Mas, sem querer, esbarrou
Na turminha encrenqueira.

Quando se levantaram
Tico, Dudé e Doidão
Sentiram cheiro de ovos
Zé Mané de confusão.
E lambuzado de areia
Zé saiu no carreirão.

Zé doidão e sua turma
Gritaram “pode parar”!
Pois Zé Mané nem ouvia
Corria pra mergulhar
E nadar para bem longe
Com medo de apanhar.

Zé Doidão pulou atrás
Assim que ele mergulhou
Mané nadou apressado
E no mar se embrenhou
Foi quando que Zé doidão
Na sua perna puxou.

Parecendo uma gangorra
Um subia, outro descia
Nesse subir e descer
Zé Mané reconhecia
Que foi com o Zé doidão
Que sonhou naquele dia.

Ei, eu conheço você!
Esbravejou Zé Doidão.
Você tava no meu sonho
Nessa mesma posição.
Agora já sei qual é
O segredo da visão.

Um puxava o outro
E Zé Doidão foi dizendo:
Um de nós vai morrer
Pro outro ficar vivendo.
Será você premiado
Que meu sangue está fervendo.

Zé Mané quando afundou
Demorou pra emergir
E por debaixo da água
Noutro ponto foi subir
Assim que abriu os olhos
Viu algo novo surgir.

Era um pescador náufrago
Que há muito tempo partiu
E com muita sede e fome
Numa catraia surgiu
Com algo na sua mão
Que Zé Mané logo viu.


Os dois nadaram apressados
E na catraia subiram
Ainda com ar de briga
Porém, logo desistiram
Quando uma língua, num vidro
Com o pescador, eles viram.


Dei-me água e comida
Inda pediu por favor.
“Mas nós não temos nada!”
Disse Doidão sem temor.
Então quase desmaiando
Apontou o pescador.

Pra um lugar que havia
Sete coqueiros plantados
Próximo a um casarão
Que nunca foi habitado
Foi ali que o pescador
Ficou com o dedo apontado.


“O segredo está no coco”
Pensou alto Zé Mané.
“Fonte de água e comida
Com certeza o fruto é
E entre o céu e a terra
O coqueiro tem o pé.”

Assim que ele terminou
A língua pôs-se a falar
Apenas em pensamento
Para a dupla escutar
E com um alto assobio
Começou logo a contar.

“Eu sou a língua da moça
Que saiu pra procurar
Uma botija escondida
Que alguém queria dar
Para mim e o pescador
Que viveu para mostrar.

Já faz mais de trinta anos
Que vivo no mar encantada
Na usura do tesouro
Fiquei desorientada
E mergulhei numa pedra
Que a língua foi arrancada.

O pescador que, também
Corria atrás do tesouro
Colocou-me nesse vidro
Para criar um agouro
E encontrar duas almas
Que tenham sede de ouro.

E vocês foram escolhidos
Para o tesouro encontrar
Como viram na imagem
Quando estavam a sonhar:
Quatro pegadas vinham
Mas só duas vão voltar.

E esse tal pescador
Que foi tentar me salvar
No mesmo dia morreu
E vivemos a penar
Até que algum ser vivo
Esse tesouro encontrar.

Zé Doidão e Zé Mané
Na água logo afundaram
Quando a catraia sumiu
Quase que se afogaram
E voltando a brigar
Para o raso nadaram.

Clara e Pedro Paulo

Clara e Pedro Paulo
Chegaram sem saber nada
Apenas viram Mané
A perna sendo puxada
E o Tico e o Dudé
Esperando na beirada.

Clara falou para Paulo
Buscar ajuda urgente
Que Mané tava em perigo
E voltasse de repente
Enquanto isso ela iria
Atrapalhar essa gente.

E clara saiu correndo
Para Mané ajudar
Quando em uma pedra
Ela veio a tropeçar
E caiu desacordada
Dentro da água do mar.

Os dois foram ao encontro
Da jovem desacordada
Quando Mané percebeu
A sua língua cortada
Que ao cair dentro d’agua
Na pedra foi decepada.

Mané correu para areia
Com aquela língua na mão
Encontrou uma vasilha
De vidro ali no chão
E pôs a língua de Clara
Chorando de compaixão.


Tico e Dudé correram
Que nada no mundo pegava
Quando Zé Mané olhou
Clara não mais estava
Apenas de longe viu
Que água do mar lhe levava.

Viu Zé Doidão correndo
Para o tesouro pegar
E aquela mesma catraia
Apareceu lá no mar
E ele partiu pra cima
Pra Clara tentar salvar.

Enquanto que Zé Doidão
Subia desembestado
No tronco de um coqueiro
Em busca do seu legado
Mas com tantos movimentos
Um coco foi arrancado.

Caiu na sua cabeça
E o fez cair no chão
Ele escapou da queda
Porém perdeu a razão
O que foi fazer ali?
Ele não tinha a noção.

Quando a ajuda chegou
Nenhum vestígio existia
Paulo ainda ficou
Dia e noite, noite e dia
Atrás de Clara e Mané
Que muito bem os queria.

O Coco, Doidão jogou
Na casa desabitada.
E vive perambulando,
Zanzando sem saber nada.
Dizem que Tico e Dudé
Morreram numa emboscada.

Esse tesouro se encontra
Entre a terra e o luar
Fonte de água e comida
No fruto que tem pra dar
E quem quiser conferir
Basta ir procurar.