wilsonpalafatosefocosblogspot.com

wilsonpalafatosefocosblogspot.com
Obrigado por nos visitar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A Revolta do Jumento


A revolta do Jumento
Lá num passado distante
Em meio ao sofrimento
Vivia esse animal
Denominado jumento
Que noite e dia sem fim
Não parava um momento.

O seu dono, um humano
Antes do sol raiar
Colocava os arreios
Para o serviço enfrentar
Enchia com pedras de fogo
Dois pares de caçuá.

E com um cipó de broxa
Batia desesperado
No danado do jumento
Para não ficar parado
Com uma espora pontuda
Furava o desgraçado.

E todo dia era assim,
Essa rotina infernal:
Pedras pra carregar,
Pancadas, socos e paus
E num instante de fuga,
Pensava o animal:

“Desse jeito vou morrer
Mais rápido que imagino
Não realizei meus sonhos
Desde quando pequenino
Sendo a culpa do humano
Que marcou o meu destino”.

“Ouvi falar que existe 
A vida após a morte
Não sei se terei azar
Ou serei vítima da sorte
Mas se voltar a viver
Quero ser humano e forte.

E o jumento sentia
A sua desigualdade
Não entendia o porquê
De tanta perversidade
E pedia pra ser homem 
Em outra oportunidade.

Achava que ser humano
Era ser forte e valente,
Bater e escravizar
Qualquer bicho e qualquer gente
Ainda viver zombando
De quem lhe é mais presente.

Até que um belo dia
Esse jumento morreu
Não aguentou a maldade
Que o homem acometeu
E nem no último suspiro
O seu sonho esqueceu.

E o tempo deu o tom
Na máquina de reviver
Transformando o jumento
Em um renovado ser
Que pro mundo, veio homem
Sem do passado esquecer.

Assim que saiu da barriga
Invés de chorar, relinchou 
E já saiu dando coices
Por todo lugar que andou
De vez em quando, lembrava
Duma vida que passou.

Não entendia direito
Onde era o seu lugar
Às vezes queria comer
Às vezes queria pastar
e vivia procurando
Alguém para machucar.

Seu sonho de profissão
Era poder conduzir
Da criança ao idoso
Para fazê-los sentir
Parte do sofrimento
Que sofreu antes de vir.

Então foi ser presidente
Pra conduzir a nação
Mas, antes ele foi vice
para dá um rasteirão
E derrubar o parceiro
E cumprir a maldição.

Só assim realizava-se
Esse pobre presidente
Agredindo a grande massa
Transformando-a em carente
Levando o país pra trás
Dizendo que vai pra frente.

Pós-modernidade


Pós-modernidade

Uma vida pós-moderna
Vou tentar argumentar
É um tanto preocupante
E impossível de evitar 
Muito nova e confusa
Bem difícil de lidar.

Mas, para descomplicar
Tamanha complicação,
Comentarei três palavras
De uma evolução:
Representar, interpretar
E apresentar na ação.

Na época do realismo
Estava o REPRESENTAR.
Coisas da realidade
Era fácil transportar
De uma linguagem pra outra
Sem muito acrescentar.

Aí, vem o modernismo:
O real é diferente.
O critério do artista
Cria-se outro ambiente
E INTERPRETAR as coisas
É crescer culturalmente.

No advento pós-moderno
A ordem é APRESENTAR.
Os fragmentos reais
Nos objetos criar.
É onde as imagens vivem
Do real, a duvidar.

Realismo, modernismo
Agora pós-modernismo
São recortes diferentes
Do evolucionismo.
Só espero que este último
Não nos cave um abismo.

Mil novecentos e cinquenta
Com mudanças de verdades
O fantasma pós-moderno
Vem pra realidade
Nas artes e nas ciências
De muitas sociedades.

Computação, arquitetura
Marcam o seu nascimento
Art pop - anos sessenta
Bota forma no momento
Entrar na filosofia
Justifica o crescimento.

Hoje ele amadurece
No constante dia-a-dia
Na moda e no cinema,
Na música, filosofia.
Programado na ciência
E pela tecnologia.

Invade o cotidiano
Com muitas informações
Deixando-nos saturados
Com serviços e diversões
Mexendo nas alavancas
De várias situações.

Um novo estilo de vida
Nunca experimentado
Gostos e atitudes
De um modismo badalado
Colorindo o ambiente
Com humor massificado.

Dentro da economia
Tudo é personalizado
Ele busca o indivíduo
Que já vive isolado
Para o jogo do prazer
Que os valores são calcados.

As coisas viraram signos,
A vida perde o sentido,
O nada, o niilismo,
O vazio está contido.
Não tem Deus, nem ideais,
Nem futuro pretendido.

No ambiente pós-moderno
Toda comunicação
Entre os seres e o mundo
Vive a simulação,
A recriação das coisas
Para causar sedução.

Micro computadores,
Videogame, vídeo bar,
FM, moda eclética,
Estilo de maquiar,
Pornô e esportivismo
Tudo a se misturar.

New wave e pacifismo,
Coisas da astrologia,
Apatia social,
Terapia, ecologia,
Sentimento de vazio
Povoam o dia-a-dia.

O individuo compra tudo
Se tornando consumista;
Sua moral é o prazer
Transforma-se em hedonista;
Inda se acha o melhor
De todos os narcisistas.

Pós-modernismo desenche,
Desfaz a realidade,
Princípios, regras, valores,
Transforma toda verdade.
Dessubstancia o sujeito
Dilui a identidade.

A condição pós-moderna
É decadência fatal?
Ou renascer hesitante?
Se faz bem ou se faz mal?
É modismo, estilo ou charme?
Ou questão ambiental?

Tem-se na economia
A desmaterialização
Tudo se ver em signos,
Um show de informação
De estímulos desconexos
Postos em sobreposição.

Em relação ao modernismo
Eu faço a comparação
Para melhor entender
Essa grande confusão.
Ser moderno é estar
Nessa configuração:

De cultura elevada,
Arte, estetização,
Obra/originalidade,
Forma/abstração,
Tem a critica cultural
E a interpretação.

Já no pós-modernismo
É um pouco diferente
É quase uma negação
Desse tardio presente
E ele se configura
Ainda meio carente:

Cotidiano banal,
A desestetização,
Não ver obra nem autor,
De fácil compreensão,
Proporciona ao público
Maior participação.

Assim findo esses versos
Sobre o pós-modernismo
Faço um retrato falado
Cheio de pragmatismo,
Preocupações instantâneas
E muito individualismo.

Perfil sem religião,
Apolítico, amoral,
Naturista, narcisista,
Com deserção social.
Se você o encontrar
Siga o seu curso normal.

Wilson Palá

São João disse, São Pedro confirmou.


São João disse, são Pedro confirmou...

Às vezes eu me alembro
De quando bem pequenina
Que via o fogueirão
Naquelas festas juninas.
Dava-me tanta alegria
Tinha festa em toda esquina.

De dia se trabalhava
Na construção da palhoça
O carroceiro encantava
Na arrumação da carroça
Pro noivo levar a noiva
Para o caminho da roça.

A mulherada contente
Passava o dia animada
Remexendo nas panelas
Pra não deixar faltar nada
E na hora do assustado
A bóia ta preparada.

Mungunzá, canjiquinha,
Arroz doce, canjicão,
Bolo de fubá, de milho,
Pamonha e fruta pão.
Não esqueciam também
De preparar o quentão.

A meninada nas palhas
Remexiam sem parar
Faziam pulseiras, relógios,
Foguetes para voar.
Enquanto os rapazolas
Construíam o arraiá

E mesmo antes do dia
Daquela arrumação
As moças e os rapazes
Tudo era animação
Preparavam o casório
Pra festa de são João.

Relembravam das passadas
Para no baile, dançar.
Cosiam os seus vestidos,
As calças pra remendar;
Faziam chapéus de palhas
Para se emperiquitar.

Para fazer a fogueira
Era grande o ritual
Escolhia-se a madeira
E cortava tudo igual.
Em toda casa existia
Como obra principal.

Em qualquer rua ou casa
Todas eram enfeitadas
Com bandeiras e balões
E de palhas bem transadas
Cada fachada e varanda
Eram muito bem pintadas.

E no dia esperado
Vinham os preparativos
Quem tinha posses mandava
Entregar os donativos
Para fazer o leilão
Naqueles dias festivos.

E a tardinha chegava.
Começava a agitação
“Menino vá tomar banho”
“Moça pregue o botão”.
E cosa logo o sovaco
Da roupa do seu irmão.

Menina pegue a vassoura
E vá “barrer” o terreiro
E coloque o tamborete
Pra sentar o sanfoneiro
E vá lá na dona Zefa
Avisar o zabumbeiro.

E aquela correria
Mexia com o coração
Era tanta alegria
Naquela ocasião
Só esperando o momento
Da noite de são João.

E na boquinha da noite
Bota o fogo na fogueira
E não se via mais nada
Apenas a fumaceira
E todos muito felizes
Com aquela choradeira.

Começa o tirinete
De barulho e explosão
Era toda juventude
Que soltava o foguetão
Anunciando os folguedos
Da festa de são João.

É triste mais é real
E digo com confiança
Que festa igual a essa
Não tenho mais esperança
Que um dia aconteça.
Só apenas na lembrança.


Wilson Palá
12 de junho 2008.