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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A Reportagem

Texto teatral para jovens e adultos. Apresenta a problemática do uso abusivo de drogas por um adolescente que conversa com a sua própria  dependência. 
                                                                       Dramaturgia – Wilson Palá

A REPORTAGEM
                                                                                                       

Personagens: (Alcoolino, Marica, Zefinha, Denis, Dida, Dependência, Abstinência, Impaciência, Vítima, Boca larga, Zezinho)              
Cenário: uma casa e a rua

Cena 01 – ABERTURA

Zezinho entra pela plateia (área de uma rua onde as crianças brincam) brincando de tica com Dida.
Zezinho: Ei, Dida, não valeu, não! O tica é você! Eu tava na mancha!
DIDA: Ah, Zezinho, tu não sabe nem brincar. Só quer que eu seja o tica! Vou brincar mais nada!
ZEZINHO: já sei, vamos brincar de esconde-esconde? Você conta que eu me escondo.
DIDA: Ta bom! Lá vai... 1, 2, 3, 4... 18, 19, 20. Pronto ou não, lá vou eu!
(Fica perguntando onde Zezinho se escondeu. Zezinho corre e diz):
ZEZINHO: Salve todos...
DIDA: Agora quem vai se esconder é eu!
ZEZINHO: Olha Dida, uma bola... Pega aí... Vamos jogar!
DIDA: Legal... (pega a bola e ficam jogando um pro outro) - Zezinho, tua aula já voltou?
ZEZINHO: Nada! Os professores ainda estão em greve. Esse ano ainda não teve aula.
DIDA: Eu aproveitei e me escrevi num curso de artes pra ver como é.
ZEZINHO: Vou nada, vou ficar é de bobeira...
DIDA: Lá perto da padaria abriram uma casa de games!
ZEZINHO: Já fosse lá?
DIDA: Fui nada! Minha mãe não deixa, não!
ZEZINHO: A minha nem liga! Ela acha bom que eu fique na rua, pra ela poder assistir a novela em paz. (Para de jogar bola).
DIDA: (imitando uma modelo) Quando eu crescer serei uma modelo bem famosa. Vou desfilar nas passarelas de verdade. Vou fazer propaganda das sandálias havaianas. E tu, vai ser o que?
ZEZINHO: Eu vou ser bombeiro e depois vou pro big brother.
DIDA: (rindo) deixa de ser sonhador Zezinho, tu vai ser é gari (rir)
ZEZINHO: E o que tem de errado em ser um gari? O meu tio é gari e tem uma moto. Eu bem queria ter pelo menos uma bicicleta.
DIDA: (saindo) pega leve, Zezinho. Fui! Amanhã nós vamos brincar no campinho.
ZEZINHO: Valeu Dida! A gente se ver lá... (saem).

Cena II

ALCOLINO: (chegando em casa) Marica, Mulher! Oh mulher? Onde é que tu tas?
(Liga a TV)
REPÓRTER - Boa tarde! Está no ar o programa a hora da verdade. Hoje teremos brincadeiras, jogos, reportagens, desenhos, dicas de cozinhas, roupas e muito mais... E não percam uma matéria exclusiva sobre o uso indevido de drogas. Veja...
ALCOOLINO: (desliga a TV) Isso não passa nada que preste... (chamando na janela) Marica, condenada, cadê tu?
MARICA - To aqui homem; tava ali na esquina com as meninas.
ALCOOLINO – Que diabos tu tava fazendo na esquina? E o que uma velha coroca como tu tava fazendo com meninas?
MARICA: Era com as meninas de Zé das bocas. Dizem que mataram mais um ontem.
ALCOOLINO: Também, esse povo não tem nem trabalho, nem estuda só pode querer roubar e matar os outros.
MARICA: Tu nunca estudasse e nem trabalha e nunca matou ninguém!
ALCOOLINO: Isso é modo de dizer, infeliz! Olhe, eu vou ali ao boteco, quando eu chegar, se você não estiver em casa, você vai ver.
MARICA - Pronto... Agora deu mesmo! Se liga na Maria da Penha... Traga a mistura!
ALCOOLINO – Que mistura? A mistura vai ser quando eu chegar lá... Vou misturar cana com cerveja e o que tiver de álcool.
MARICA: Você só pensa em cachaça, troço. Os meninos estão com fome. Traga pelo menos uma beira de jabar pra botar no feijão que o rapaz do conselho tutelar deu.
ALCOOLINO: Vixe! E esse negócio de conselho é pra dá feijão?!
MARICA: É pra ser feliz! A eleição vem aí. Tem gente que dá até cimento.
ALCOOLINO: Se eu ganhar alguma coisa no baralho, talvez traga ovo.
MARICA: Miserável! Era bom que desse um troço nesse troço e morresse no caminho. (Liga a TV)

cena III

Repórter-Boa tarde! Estamos começando mais um programa “A hora da verdade”. Hoje vamos discutir um tema que atinge toda sociedade.
MARICA: (falando com a TV) Ainda bem que sociedade é bem longe daqui.
REPORTER: O uso indevido de drogas se tornou um grande problema de saúde pública em praticamente todo o mundo. Suas consequências e prejuízos não se restringem ao usuário: a família, os vizinhos, o emprego e toda comunidade são vítimas diretas desse mal.
MARICA: A minha família mesmo não. Cruz credo. (Se benze).
REPORTER: Em algum dos casos a coisa começa sem que perceba. Veja:
MARICA: Ave Maria... (desliga a TV e chama) – Zezinho!

Cena IV

ZEFINHA: (chegando) Ele disse que ta fazendo um dever.
MARICA: Dever?! Onde foi que já se viu, menina. A escola dele ta de greve. Não tem precisão de ta gastando caderno não. Chame esse troço ruim...
ZEFINHA: Ele tava com uma conversa que ia pro big brother.
MARICA: Ainda bem que essa escola ta de greve, porque esse menino de tanto estudar já ta ficando lerdo.  Falar em lerdo, cadê os meninos, Zefinha?
ZEFINHA: Tão brincando lá no esgoto.
MARICA: Ainda bem que a CAERN não veio ajeitar aquele esgoto, senão tava tudo aqui, atanazando.
(Entra Alcoolino)
MARICA: Já voltou? Porque não ficou na rua?
ALCOOLINO: Não quero nem conversa troço de azar! A casa é minha e eu entro na hora que eu quiser.
MARICA: Zezinho, ô menino!
Zezinho: Senhora...?
MARICA: Traga um cigarro pra sua mãe. Traga aceso.
Zezinho - Ah mãe. Vou levar mais não vou acender, não.
ALCOOLINO: Deixe de ser malcriado, troço ruim. Obedeça a sua mãe. Aproveite passe na geladeira e traga uma cerveja pra mim.
Zezinho: (com o cigarro e a bebida), A minha professora disse que fumar prejudica a saúde. (Para o pai) E beber também.
MARICA: Deixe de besteira menino. Professora é pra ensinar a ler e a escrever. Não é pra ficar se metendo na vida dos outros, não.
ALCOOLINO: Além dos mais, prejudica a saúde de quem fuma há muito tempo.  E você nem fuma ainda! (Liga a TV)

Cena V

Repórter: Os nossos repórteres conseguiram encontrar essa família e procuraram entender um pouco essa realidade. Vejam:
ALCOOLINO: (desliga a TV) Essa TV não passa um futebol...
MARICA: Você podia era cuidar de arrumar um trabalho e não ficar aí querendo ver futebol.
ALCOOLINO: Que trabalho que nada, faladeira, semana passada eu ganhei foi quinhentos no baralho...
MARICA: E nessa semana perdeu trezentos e a bicicleta velha.
ALCOOLINO: Olha Marica, quem vem ali... É a reportagem.
MARICA: Vixe! é o rapaz da televisão.
ALCOOLINO: Parece que ele vem falar com a gente?
MARICA: É bem coisa de política. Olha, já tão chegando!
(Entra o repórter)

Cena VI

Repórter II: Boa tarde? Eu sou o repórter Boca Larga do programa A hora da verdade, estou aqui no bairro Fim do Mundo para entrevistar essa família sobre a problemática do uso indevido de drogas. Minha senhora, como é seu nome?
MARICA: Marica... Porque, heim?
ALCOOLINO: O meu é Alcoolino. Isso é pra Globo, é?
REPORTER: Dona marica a senhora tem quantos filhos?
MARICA: Tenho sete: Francisco, Zezinho, Zefinha, Joel, patrício, Genário e Noé.
REPÓRTER: E eles estão bem na escola?
MARICA: Sei lá. Eu acho que tão, todo mês me dão o dinheiro da bolsa família.
ALCOOLINO: Falar nisso, mulher, temos que fazer logo outro menino por que Noé já ta saindo do programa do leite.
MARICA: Esse troço só pensa em fazer menino! Vai se danar...
REPORTER: Tem alguém que fuma na sua família?
MARICA: Eu fumo que nem uma caipora.
ALCOOLINO: Eu fumo também. Será que vão inventar uma bolsa fumo?
MARICA: Francisco meu filho mais velho, tem 15 anos. Mas fuma que é uma beleza.
ALCOOLINO: E Zezinho ta quase lá.
REPÓRTER: Me diga uma coisa seu Alcoolino, o Senhor usa algum tipo de bebida?
ALCOOLINO: Eu só bebo como esporte.
REPORTER: Já sei, uma vez por outra?
ALCOOLINO: Não é bem assim não, moço. De segunda a quinta é só treino; Agora sexta, sábado e domingo eu me dedico mesmo. Meto a cara.
MARICA: É! Meu marido adora esportes.
REPORTER: Seu Alcoolino, o senhor fuma e bebe por quê?
ALCOOLINO: Ora essa! Eu fumo porque eu gosto. O dinheiro é meu, em qualquer bodega, boteco, padaria e até farmácia eu compro meus cigarros e...
MARICA: O povo da novela fuma tão bonito...
REPORTER: Obrigado, Repórter Boca larga para o Programa A hora da verdade.
ALCOOLINO: Vai, marica. Liga isso aí, que a gente vai passar na TV.
MARICA: Calma... Mas essa reportagem foi sobre o que mesmo, heim?
ALCOOLINO: Sobre esporte, mulher, ta doida é?
MARICA: Que esporte abestado, era sobre bolsa família...
ZEZINHO: Era sobre drogas... Vou avisar ao povo da rua...
(Marica liga a TV)

Cena VII

Repórter âncora: Como vocês viram os problemas não se resume apenas no ato de fumar. No próximo bloco continuaremos a nossa conversa. Agora os comerciais.
(Entra um homem e uma mulher descolados)

Cena VIII

CIGARRO: Se eu quiser fumar eu fumo
ÁLCOOL: Se eu quiser beber eu bebo
CIGARRO/ ALCOOL: Não interessa a ninguém
CIGARRO: Olá juventude! O meu nome é cigarro, mas vocês podem me chamar de fumo, charuto ou apenas careta.
ÁLCOOL: Como vocês sabem, eu sou o álcool etílico, mas vocês podem me chamar de birita, mé, pinga cachaça, cerva e muitos outros nomes.
CIGARRO: Geralmente eu e minha amiga cachaça estamos sempre juntos na nossa jornada. Eu sou extraído da folha do fumo.
ÁLCOOL: E eu venho da cana de açúcar, cereais ou frutas, através de um processo de fermentação ou destilação.
CIGARRO: Eu sou estimulante, provoco sensações de prazer.
ÁLCÓOL: Saibam então, que eu posso causar vários efeitos na sua vida. Você tomando algumas doses, você fica desinibido, eufórico. Todos saberão que você é um adulto.
CIGARRO: Caros jovens não se iludam, fumem. Seja mais um rebelde. Sua juventude agradece. Se eu quiser fumar eu fumo...
ÁLCOOL: Se eu quiser beber eu bebo
CIGARRO: Não interessa a ninguém.

Cena IX

Repórter: Voltamos ao nosso programa “A hora da verdade”, e agora vamos mostrar como é fácil o primeiro contato com essas drogas ditas legais.
ALCOOLINO: (desliga a TV) Acho que só vai passar na patrulha.

Cena X

Zezinho: (com a bola) Mãe... Vou ali.
MARICA: Já vai tarde. Se encontrar Zefinha diga a ela que não precisa marcar a ficha de D. Damiana mais não. Ela morreu ontem. Mas marque a minha. Sei lá se daqui a três meses eu não vou ta doente...
ZEZINHO: (cantarolando uma música do momento) lá, lá, ri, lá, lá, ri.
Cigarro: Ei, psiu! Ei menino esperto!
Zezinho: Ta falando comigo?
Álcool: É com você mesmo.
Cigarro: Você não acha que está na hora de mostrar que já é um rapaz, não?
Zezinho: Mas eu ainda sou uma criança.
Álcool: É criança porque quer!
Cigarro: Se você colocar um cigarro na boca, todo mundo vai achar que você é um rapaz. Vamos!
Álcool: Agora imagine se você tomar um pouco de álcool, todas as garotas vão fazer filas pra convidar você para as festas.
Zezinho: Mas minha professora disse...
Cigarro: Esqueça a professora, faça um teste. Só uma veizinha.
Zezinho: Mas eu não tenho dinheiro.
Álcool: Conversa rapaz. Venha tome um gole.
(Zezinho toma um gole, começa a fumar e tossir).
Cigarro: Não se preocupe, rapaz, os melhores fumantes do mundo no começo, tossiram também.
Álcool: Tchau, garoto esperto. Se precisar é só chamar.
Cigarro: lembre-se que sempre estaremos pertos de você.
(Zezinho sai tossindo o álcool e o cigarro ficam cantando uma música passagem de tempo).
Em qualquer esquina você pode me encontrar
Mesmo sem você querer alguém sempre quer lhe dar
Nunca diga nunca, pois, ninguém vai me deter,
Sou legal, não proibido. E sou símbolo de poder.

Cena XI

Zezinho: (entra já viciado) E aí, boy, tem cigarro aí? Ih, é um bebê! A galera já era pra ter chegado... Cadê o Dennis que não chega... Quero só ver que cigarro diferente é esse que ele disse que ia trazer... To a fim de fumar, boy... Acho que vou lá embaixo... Vou lá... Lá com certeza tem cigarros... (sai)

Cena XII

MARICA: Liga esse troço, Alcoolino, Ta na hora da patrulha.
ALCOOLINO: (liga) Espero que tenha terminado aquele programa chato.
REPORTER: Como vocês viram os primeiros contatos com as drogas, pode ser muito fácil. Começa dentro de sua própria casa. O exemplo dos pais é o espelho para os filhos. Já na rua, o contato com a turma reforça o uso dessas drogas lícitas achando que o ato de fumar e beber pode ser prova de crescimento e autonomia. Por isso é importante saber que as drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo por essas razões denominadas psicoativas.
ALCOOLINO: Ainda ta passando isso?
REPORTER: Basicamente elas são de três tipos: Drogas, como álcool, que diminuem a atividade mental, também chamada depressoras.
MARICA: Mas até que ta falando uma coisa certa. O álcool deixa as pessoas doidas. Ciça de Bira, depois que o macho deixou, ficou deprimida. Bebe que só a gota.
REPORTER: Drogas, como o cigarro, que aumentam a atividade mental, também chamada de estimulantes.
ALCOOLINO: É verdade! O cigarro estimula mesmo. Tem dias que se eu não fumar não faço nada.
MARICA: E qual é o dia que tu faz alguma coisa?
REPORTER: Drogas que alteram a percepção, que são chamadas de substâncias alucinógenas e provocam distúrbios no funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma desordenada, numa espécie de delírio. E um dos exemplos é a maconha. Que pode ser o próximo passo depois do cigarro. Veja!
(Alcoolino desliga)
ALCOOLINO: Esse programa é muito chato.

Cena XIII

Maconha: Olá tudo bem? Há, há, há, só. Muito prazer em conhecê-los, meu nome é maconha; se preferir pode chamar haxixe, baseado, fininho, marrom. Fique a vontade. Eu sou uma substância extraída da planta cannabis sativa. Posso causar alguns efeitos de excitação seguida de relaxamento, euforia, problemas com o tempo e espaço, você pode ficar falando sem parar e ficar com muita fome. (A famosa larica), também posso deixá-lo pálido, com os olhos vermelhos, pupilas dilatadas e boca seca. Sua memória pode esquecer fatos bem recentes e há quem apresente alucinações, diminuição de reflexos e a famosa paranoia. 
(Entra Zezinho) - Olá Zezinho, já és um fumante; cigarro no bico; todo rapaz...
Zezinho: E quem é você?
MACONHA: O Dennis não falou? Ele disse que você tava afim de um cigarro diferente... Eu sou a Maconha.
Zezinho: Maconha?! Eu pensei que você fosse mais mal encarada.
MACONHA: Viu como eu sou atraente.
Zezinho: Mas não deixa de ser uma droga!
MACONHA: Mas quando eu estiver perto de você tudo vai parecer mais fácil.
Zezinho: A minha professora disse...
MACONHA: Você vai se sentir mais seguro.
Zezinho: E se eu me viciar?
MACONHA: É só nunca sair de perto de mim.
Zezinho: Valeu maconha, mas eu tenho que ir.
MACONHA: Que isso Zezinho, amarelou? Ih, é um bebê... Como você está vendo eu não sou tão feia assim! Vamos só um trago. Ta com medo de mim, é?
Zezinho: Bebê uma pinoia eu sou um rapaz, sou quase adulto. Eu vou mostrar pra Dennis que sou invocado.  E que não tenho medo de você...
(Coreografia de passagem de tempo com Zezinho e a maconha)
Zezinho: Maconha eu estou apaixonado por você. Não consigo viver sem você.
Maconha: Calma, Zezinho. Você nem me conhece direito.
Zezinho: Não, não, não me deixe só. Preciso de você...
Maconha: Você terá outras em sua vida. Eu preciso ir. Preciso fazer outras cabeças.
ZEZINHO: Logo agora que eu me apaixonei por você? Não faça isso maconha... Não vou conseguir viver sem você!
(Zezinho fica chorando. Entra Dennis).

Cena XIV

Dennis: Zezinho, meu irmão. Ta vacilando?
Zezinho: Eu preciso da maconha. Não consigo viver sem ela.
Dennis: Calma, Zezinho. Maconha é coisa de criança. Vou lhe apresentar a minha amiga Pedra. O seu efeito é muito mais rápido e mais poderoso. Ela vai levar você a lugares que você nunca foi.
Zezinho: Ela vai me fazer esquecer a maconha? Então vamos lá... Vamos rápido...
Dennis: Vai lá Zezinho, aperte o cinto que a viagem é truculenta...
Zezinho: (fuma e viaja no efeito da droga) Meu irmão, tem mais aí?
Dennis: Acabou, Zezinho, agora é com você.
Zezinho: Poxa, nem acabei de fumar direito e já quero fumar mais... Tenho que ir à batalha.
Dennis: Isso, Zezinho, pode ir. Aproveite e Leve para os seus amigos. Eles também precisam conhecer. (Saem)

Cena XV

D. Marica: Alcoolino, eu estou muito preocupada com Zezinho. Ele só tem a roupa do couro. Já vendeu tudo que tinha.
Alcoolino: Ontem eu ouvi lá na bodega que ele assaltou um pedreiro que vinha da construção.
Marica: Agora ele só pensa nessa tal de pedra.
Alcoolino: Temos que entregá-lo ao juizado.
Marica: Mas ele é nosso filho. Temos que ter responsabilidade.
Alcoolino: Agora eu não posso. Marquei um jogo de baralho lá no boteco do Joca. Depois a gente ver isso. (Saindo) Vou já perder a final do brasileirão... Por causa de uma alma sebosa que não tem mais jeito.
MARICA: Pra fazer o menino é muito fácil agora quando é pra cuidar só sobra pra mim.
ZEFINHA: Mãe eu não suporto mais Zezinho! Você quem vai decidir se quem fica aqui é ele ou eu! Ele está louco! Até as minhas calcinhas ele já vendeu por causa desse crack. Minhas amigas não querem mais sair comigo. Os pais delas não deixam mais. Na escola ficam me chamando de noiada. Até na rua as pessoas quando me ver mudam de lado. (Chora).
MARICA: (chorando) Ai minha filha, eu também não sei o que fazer. Fui à escola a diretora disse que ele foi expulso, fui ao hospital disseram que lá não tinha médico pra drogado, fui à delegacia disseram que ele não nem pode ser preso que ele menor, nos abrigos estão lotados nem um lugar quer me ajudar. (Liga a TV)
Repórter: A maneira com que os pais lidam com o assunto tem muito mais efeito sobre o jovem do que as informações que são dadas. Ou seja, o que se faz é muito mais importante do que o que se diz.
MARICA: (desliga a TV) E essa novela que não começa...

Cena XVI

(Entra Zezinho completamente drogado e começa a ter alucinações.)
Dependência: Jovem Zezinho ouça-me: Se você quiser jamais existirei em sua vida. Eu sou o impulso que leva uma pessoa a usar uma droga de forma contínua ou frequentemente para obter prazer. Quando você não consegue controlar o consumo de drogas dá cartão verde para que eu tome conta de sua vida. Eu sou a dependência... Posso ser física e psicológica. Quando o seu corpo fica desejando a droga é a dependência física, a famosa síndrome da abstinência...
(Aparece abstinência)
ABSTINÊNCIA: Olá, me chamou? Ó... Querido dependente! Vou fazer de sua vida um inferno.
Dependência: Calma abstinência... Bem, já a dependência psicológica é um estado de mal-estar e desconforto também conhecido por impaciência.
Impaciência: Olá dependente coitado, farei com que o vazio e a falta de concentração preencham a sua vida.
(Zezinho desperta)
Zezinho: (Correndo), Meu Deus o que faço?! Não aguento mais, estou morrendo... Tenho que parar com esse vazio. Apenas uma noite sem usar essa droga e já estou assim, querendo roubar, querendo matar. Eu tenho que parar. Preciso de ajuda. Não usarei mais...
(Entra a dependência, abstinência e a impaciência).
Dependência: Está precisando de ajuda, Zezinho? Estamos aqui para ajudar você!
Abstinência: Escute Zezinho, como sabes, eu sou a síndrome da abstinência e se você parar de usar droga, vou causa-lhe náuseas, vômitos, tremores nas mãos e até mesmo a morte.
Zezinho: Como vocês querem me ajudar? Me matando?
Impaciência: Você não precisa morrer agora. Esse mal-estar e desconforto que você está sentindo, essa ansiedade, essa sensação de vazio, a perda da concentração, tudo isso é justamente o meu poder. O poder da impaciência! Ou melhor: a dependência psicológica.
Dependência: Isso mesmo Zezinho! E tudo isso pode ser evitado. Vá tomar uma pinga, fumar um cigarrinho e dá uma “tapinha” na maconha ou crack. Tudo isso vai ser coisa do passado, você será feliz de novo.
Zezinho: Quem são vocês? Onde vocês estão?
Dependência: Pra começar, nós estamos dentro da sua cabeça. Precisamente no seu cérebro.
Abstinência: Zezinho deixe de conversa fiada e vá tomar uma bicada que esses tremores acabarão.
Impaciência: É Zezinho, basta fumar unzinho que o mal-estar e a ansiedade sumirão.
Zezinho: Acho que vocês estão certos.
Dependência: Isso mesmo. Zezinho. Se o problema for grana, nós estamos com você. Faça o que puder.
Zezinho: Não, não, não. Vão embora. Preciso de ajuda.
Dependência: Zezinho eu não posso ir embora. Eu sou a dependência... Junto com abstinência e a impaciência estamos dentro de você. Enquanto você permitir ficaremos aqui. E trabalhando para que você não tenha dignidade, respeito, paz, nem alegria. Você vai roubar, matar, mentir, perder tudo que a vida tem de melhor. Tudo isso em meu nome: A DEPENDÊNCIA. Nós não sairemos daqui. Só você pode nos expulsar. Olha ali Zezinho uma vítima, vai lá pode ter uns trocados na bolsa dela.

Cena XVII

Zezinho: (tirando o revolver) – parado ai... Isso é um assalto! Passando a bolsa, vamos! Vamos!
Vítima: Não, por favor. Esse dinheiro é pra comprar o leite do meu filho.
Zezinho: Que nada, passando se não vai comer chumbo.
Vítima: Não, não faça isso.
Zezinho: (atira) Eu avisei.

Cena XVIII

MARICA: (liga a TV)
Repórter: A droga faz mais uma vítima. Quem vai cuidar dos seus filhos. Até quando viveremos com medo. Quem será o próximo?
MARICA: (desliga a TV) Essa TV só passa desgraça!
Cena XIX
(Entra Dida declamando o texto; depois Zezinho com a bola)
DIDA: A verdade é dolorosa e real. Já é hora de encará-la com seriedade e com verdadeiras atitudes. É preciso estimular a juventude a obter novas formas de prazer. O verdadeiro “barato” pode ser obtido através da arte e do esporte. Educação é uma verdadeira fonte de baratos.
ZEZINHO: E aí, Dida?
DIDA: Ai, Zezinho pensei que você não viesse mais. Tava ensaiando o texto que vou apresentar hoje. E aí, vamos pro campinho?
ZEZINHO: Dida... Vamos pro campinho hoje não. Será que ainda tem vaga lá na escola de artes?
DIDA: Claro, Zezinho. Vamos lá fazer a matrícula. (Saem)

Pano




(Início do debate)

Cerca de 7.000.000 de pessoas (quase três vezes a população do RN morre prematuramente a cada ano, em todo mundo devido ao uso de álcool, tabaco e outras drogas).

A cada minuto inúmeras crianças e adolescentes se envolvem com drogas nas escolas.

O alcoolismo é a terceira doença que mais mata no mundo.
É considerada dependente a pessoa que sente um forte desejo de consumir drogas