Texto teatral para jovens e adultos. Apresenta a problemática do uso abusivo de drogas por um adolescente que conversa com a sua própria dependência. |
Dramaturgia – Wilson Palá
A REPORTAGEM
Personagens: (Alcoolino, Marica,
Zefinha, Denis, Dida, Dependência, Abstinência, Impaciência, Vítima, Boca larga, Zezinho)
Cenário: uma
casa e a rua
Cena 01 – ABERTURA
Zezinho entra
pela plateia (área de uma rua onde as crianças brincam) brincando de tica com
Dida.
Zezinho: Ei, Dida, não valeu,
não! O tica é você! Eu tava na
mancha!
DIDA: Ah, Zezinho, tu não
sabe nem brincar. Só quer que eu seja o tica! Vou brincar mais nada!
ZEZINHO: já sei, vamos
brincar de esconde-esconde? Você conta que eu me escondo.
DIDA: Ta bom! Lá vai... 1,
2, 3, 4... 18, 19, 20. Pronto ou não, lá vou eu!
(Fica perguntando onde Zezinho se escondeu. Zezinho
corre e diz):
ZEZINHO: Salve todos...
DIDA: Agora quem vai se
esconder é eu!
ZEZINHO: Olha Dida, uma
bola... Pega aí... Vamos jogar!
DIDA: Legal... (pega a bola
e ficam jogando um pro outro) - Zezinho, tua aula já voltou?
ZEZINHO: Nada! Os professores
ainda estão em greve. Esse ano ainda não teve aula.
DIDA: Eu aproveitei e me
escrevi num curso de artes pra ver como é.
ZEZINHO: Vou nada, vou ficar
é de bobeira...
DIDA: Lá perto da padaria
abriram uma casa de games!
ZEZINHO: Já fosse lá?
DIDA: Fui nada! Minha mãe
não deixa, não!
ZEZINHO: A minha nem liga! Ela
acha bom que eu fique na rua, pra ela poder assistir a novela em paz. (Para de
jogar bola).
DIDA: (imitando uma modelo)
Quando eu crescer serei uma modelo bem famosa. Vou desfilar nas passarelas de
verdade. Vou fazer propaganda das sandálias havaianas. E tu, vai ser o que?
ZEZINHO: Eu vou ser bombeiro e
depois vou pro big brother.
DIDA: (rindo) deixa de ser
sonhador Zezinho, tu vai ser é gari (rir)
ZEZINHO: E o que tem de errado
em ser um gari? O meu tio é gari e tem uma moto. Eu bem queria ter pelo menos uma
bicicleta.
DIDA: (saindo) pega leve,
Zezinho. Fui! Amanhã nós vamos brincar no campinho.
ZEZINHO: Valeu Dida! A gente
se ver lá... (saem).
Cena II
ALCOLINO: (chegando em casa)
Marica, Mulher! Oh mulher? Onde é que tu tas?
(Liga a TV)
REPÓRTER - Boa tarde! Está no
ar o programa a hora da verdade. Hoje teremos brincadeiras, jogos, reportagens,
desenhos, dicas de cozinhas, roupas e muito mais... E não percam uma matéria
exclusiva sobre o uso indevido de drogas. Veja...
ALCOOLINO:
(desliga a TV) Isso não passa nada que preste... (chamando na janela)
Marica, condenada, cadê tu?
MARICA - To aqui homem; tava
ali na esquina com as meninas.
ALCOOLINO – Que diabos tu tava
fazendo na esquina? E o que uma velha coroca como tu tava fazendo com meninas?
MARICA: Era com as meninas
de Zé das bocas. Dizem que mataram mais um ontem.
ALCOOLINO: Também, esse povo não
tem nem trabalho, nem estuda só pode querer roubar e matar os outros.
MARICA: Tu nunca estudasse e
nem trabalha e nunca matou ninguém!
ALCOOLINO: Isso é modo de dizer,
infeliz! Olhe, eu vou ali ao boteco, quando eu chegar, se você não estiver em
casa, você vai ver.
MARICA - Pronto... Agora deu
mesmo! Se liga na Maria da Penha... Traga a mistura!
ALCOOLINO – Que mistura? A
mistura vai ser quando eu chegar lá... Vou misturar cana com cerveja e o que
tiver de álcool.
MARICA: Você só pensa em
cachaça, troço. Os meninos estão com fome. Traga pelo menos uma beira de jabar
pra botar no feijão que o rapaz do conselho tutelar deu.
ALCOOLINO: Vixe! E esse negócio
de conselho é pra dá feijão?!
MARICA: É pra ser feliz! A
eleição vem aí. Tem gente que dá até cimento.
ALCOOLINO: Se eu ganhar alguma
coisa no baralho, talvez traga ovo.
MARICA: Miserável! Era bom
que desse um troço nesse troço e morresse no caminho. (Liga a TV)
cena III
Repórter-Boa tarde! Estamos
começando mais um programa “A hora da verdade”. Hoje vamos discutir um tema que
atinge toda sociedade.
MARICA: (falando com a TV)
Ainda bem que sociedade é bem longe daqui.
REPORTER: O uso indevido de
drogas se tornou um grande problema de saúde pública em praticamente todo o
mundo. Suas consequências e prejuízos não se restringem ao usuário: a família,
os vizinhos, o emprego e toda comunidade são vítimas diretas desse mal.
MARICA: A minha família mesmo
não. Cruz credo. (Se benze).
REPORTER: Em algum dos casos a
coisa começa sem que perceba. Veja:
MARICA: Ave Maria... (desliga
a TV e chama) – Zezinho!
Cena IV
ZEFINHA: (chegando) Ele disse que ta fazendo um dever.
MARICA: Dever?! Onde foi que já se viu, menina. A escola dele ta de greve. Não
tem precisão de ta gastando caderno não. Chame esse troço ruim...
ZEFINHA: Ele tava com uma conversa que ia pro big brother.
MARICA: Ainda bem que essa escola ta de greve, porque esse menino de tanto
estudar já ta ficando lerdo. Falar em
lerdo, cadê os meninos, Zefinha?
ZEFINHA: Tão brincando lá no esgoto.
MARICA: Ainda bem que a CAERN não veio ajeitar aquele esgoto, senão tava tudo
aqui, atanazando.
(Entra Alcoolino)
MARICA: Já voltou? Porque
não ficou na rua?
ALCOOLINO: Não quero nem conversa
troço de azar! A casa é minha e eu entro na hora que eu quiser.
MARICA: Zezinho, ô menino!
Zezinho: Senhora...?
MARICA: Traga um cigarro pra
sua mãe. Traga aceso.
Zezinho - Ah mãe. Vou levar
mais não vou acender, não.
ALCOOLINO: Deixe de ser malcriado,
troço ruim. Obedeça a sua mãe. Aproveite passe na geladeira e traga uma cerveja
pra mim.
Zezinho: (com o cigarro e a
bebida), A minha professora disse que fumar prejudica a saúde. (Para o pai) E
beber também.
MARICA: Deixe de besteira
menino. Professora é pra ensinar a ler e a escrever. Não é pra ficar se metendo
na vida dos outros, não.
ALCOOLINO: Além dos mais,
prejudica a saúde de quem fuma há muito tempo.
E você nem fuma ainda! (Liga a TV)
Cena V
Repórter: Os nossos repórteres
conseguiram encontrar essa família e procuraram entender um pouco essa
realidade. Vejam:
ALCOOLINO: (desliga a TV) Essa
TV não passa um futebol...
MARICA: Você podia era cuidar
de arrumar um trabalho e não ficar aí querendo ver futebol.
ALCOOLINO: Que trabalho que
nada, faladeira, semana passada eu ganhei foi quinhentos no baralho...
MARICA: E nessa semana
perdeu trezentos e a bicicleta velha.
ALCOOLINO: Olha Marica, quem
vem ali... É a reportagem.
MARICA: Vixe! é o rapaz da
televisão.
ALCOOLINO: Parece que ele vem
falar com a gente?
MARICA: É bem coisa de
política. Olha, já tão chegando!
(Entra o repórter)
Cena VI
Repórter II: Boa tarde? Eu sou o
repórter Boca Larga do programa A hora da verdade, estou aqui no bairro Fim do
Mundo para entrevistar essa família sobre a problemática do uso indevido de
drogas. Minha senhora, como é seu nome?
MARICA: Marica... Porque,
heim?
ALCOOLINO: O meu é Alcoolino.
Isso é pra Globo, é?
REPORTER: Dona marica a
senhora tem quantos filhos?
MARICA: Tenho sete:
Francisco, Zezinho, Zefinha, Joel, patrício, Genário e Noé.
REPÓRTER: E eles estão bem na escola?
MARICA: Sei lá. Eu acho que
tão, todo mês me dão o dinheiro da bolsa família.
ALCOOLINO: Falar nisso, mulher,
temos que fazer logo outro menino por que Noé já ta saindo do programa do
leite.
MARICA: Esse troço só pensa
em fazer menino! Vai se danar...
REPORTER: Tem alguém que fuma
na sua família?
MARICA: Eu fumo que nem uma
caipora.
ALCOOLINO: Eu fumo também. Será
que vão inventar uma bolsa fumo?
MARICA: Francisco meu filho
mais velho, tem 15 anos. Mas fuma que é uma beleza.
ALCOOLINO: E Zezinho ta quase
lá.
REPÓRTER: Me diga uma coisa seu
Alcoolino, o Senhor usa algum tipo de bebida?
ALCOOLINO: Eu só bebo como
esporte.
REPORTER: Já sei, uma vez por
outra?
ALCOOLINO: Não é bem assim não,
moço. De segunda a quinta é só treino; Agora sexta, sábado e domingo eu me
dedico mesmo. Meto a cara.
MARICA: É! Meu marido adora
esportes.
REPORTER: Seu Alcoolino, o
senhor fuma e bebe por quê?
ALCOOLINO: Ora essa! Eu fumo
porque eu gosto. O dinheiro é meu, em qualquer bodega, boteco, padaria e até
farmácia eu compro meus cigarros e...
MARICA: O povo da novela fuma
tão bonito...
REPORTER: Obrigado, Repórter
Boca larga para o Programa A hora da verdade.
ALCOOLINO: Vai, marica. Liga isso
aí, que a gente vai passar na TV.
MARICA: Calma... Mas essa
reportagem foi sobre o que mesmo, heim?
ALCOOLINO: Sobre esporte,
mulher, ta doida é?
MARICA: Que esporte abestado,
era sobre bolsa família...
ZEZINHO: Era sobre drogas...
Vou avisar ao povo da rua...
(Marica liga a TV)
Cena VII
Repórter
âncora: Como vocês
viram os problemas não se resume apenas no ato de fumar. No próximo bloco
continuaremos a nossa conversa. Agora os comerciais.
(Entra um homem e uma mulher descolados)
Cena VIII
CIGARRO: Se eu quiser fumar
eu fumo
ÁLCOOL: Se eu quiser beber eu
bebo
CIGARRO/
ALCOOL: Não interessa
a ninguém
CIGARRO: Olá juventude! O meu
nome é cigarro, mas vocês podem me chamar de fumo, charuto ou apenas careta.
ÁLCOOL: Como vocês sabem, eu
sou o álcool etílico, mas vocês podem me chamar de birita, mé, pinga cachaça,
cerva e muitos outros nomes.
CIGARRO: Geralmente eu e minha
amiga cachaça estamos sempre juntos na nossa jornada. Eu sou extraído da folha
do fumo.
ÁLCOOL: E eu venho da cana de
açúcar, cereais ou frutas, através de um processo de fermentação ou destilação.
CIGARRO: Eu sou estimulante,
provoco sensações de prazer.
ÁLCÓOL: Saibam então, que eu
posso causar vários efeitos na sua vida. Você tomando algumas doses, você fica
desinibido, eufórico. Todos saberão que você é um adulto.
CIGARRO: Caros jovens não se
iludam, fumem. Seja mais um rebelde. Sua juventude agradece. Se eu quiser fumar
eu fumo...
ÁLCOOL: Se eu quiser beber eu
bebo
CIGARRO: Não interessa a
ninguém.
Cena IX
Repórter: Voltamos ao nosso
programa “A hora da verdade”, e agora vamos mostrar como é fácil o primeiro
contato com essas drogas ditas legais.
ALCOOLINO: (desliga a TV) Acho
que só vai passar na patrulha.
Cena X
Zezinho: (com a bola) Mãe... Vou
ali.
MARICA: Já vai tarde. Se
encontrar Zefinha diga a ela que não precisa marcar a ficha de D. Damiana mais
não. Ela morreu ontem. Mas marque a minha. Sei lá se daqui a três meses eu não
vou ta doente...
ZEZINHO: (cantarolando uma
música do momento) lá, lá, ri, lá, lá, ri.
Cigarro: Ei, psiu! Ei menino esperto!
Zezinho: Ta falando comigo?
Álcool: É com você mesmo.
Cigarro: Você não acha que
está na hora de mostrar que já é um rapaz, não?
Zezinho: Mas eu ainda sou uma criança.
Álcool: É criança porque quer!
Cigarro: Se você colocar um
cigarro na boca, todo mundo vai achar que você é um rapaz. Vamos!
Álcool: Agora imagine se você
tomar um pouco de álcool, todas as garotas vão fazer filas pra convidar você
para as festas.
Zezinho: Mas minha professora disse...
Cigarro: Esqueça a professora,
faça um teste. Só uma veizinha.
Zezinho: Mas eu não tenho dinheiro.
Álcool: Conversa rapaz. Venha tome um gole.
(Zezinho toma um gole, começa a fumar e tossir).
Cigarro: Não se preocupe, rapaz,
os melhores fumantes do mundo no começo, tossiram também.
Álcool: Tchau, garoto esperto. Se precisar é só chamar.
Cigarro: lembre-se que sempre
estaremos pertos de você.
(Zezinho sai tossindo o álcool e o cigarro ficam
cantando uma música passagem de tempo).
Em qualquer esquina você pode me encontrar
Mesmo sem você querer alguém sempre quer lhe dar
Nunca diga nunca, pois, ninguém vai me deter,
Sou legal, não proibido. E sou símbolo de poder.
Cena XI
Zezinho: (entra já viciado) E
aí, boy, tem cigarro aí? Ih, é um bebê! A galera já era pra ter chegado... Cadê
o Dennis que não chega... Quero só ver que cigarro diferente é esse que ele
disse que ia trazer... To a fim de fumar, boy... Acho que vou lá embaixo... Vou
lá... Lá com certeza tem cigarros... (sai)
Cena XII
MARICA: Liga esse troço, Alcoolino, Ta na hora da patrulha.
ALCOOLINO: (liga) Espero que tenha terminado aquele programa chato.
REPORTER: Como vocês viram os
primeiros contatos com as drogas, pode ser muito fácil. Começa dentro de sua
própria casa. O exemplo dos pais é o espelho para os filhos. Já na rua, o
contato com a turma reforça o uso dessas drogas lícitas achando que o ato de
fumar e beber pode ser prova de crescimento e autonomia. Por isso é importante
saber que as drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo por essas
razões denominadas psicoativas.
ALCOOLINO: Ainda ta passando
isso?
REPORTER: Basicamente elas são
de três tipos: Drogas, como álcool, que diminuem a atividade mental, também
chamada depressoras.
MARICA: Mas até que ta
falando uma coisa certa. O álcool deixa as pessoas doidas. Ciça de Bira, depois
que o macho deixou, ficou deprimida. Bebe que só a gota.
REPORTER: Drogas, como o
cigarro, que aumentam a atividade mental, também chamada de estimulantes.
ALCOOLINO: É verdade! O cigarro
estimula mesmo. Tem dias que se eu não fumar não faço nada.
MARICA: E qual é o dia que
tu faz alguma coisa?
REPORTER: Drogas que alteram a
percepção, que são chamadas de substâncias alucinógenas e provocam distúrbios
no funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma
desordenada, numa espécie de delírio. E um dos exemplos é a maconha. Que pode
ser o próximo passo depois do cigarro. Veja!
(Alcoolino desliga)
ALCOOLINO: Esse programa é muito
chato.
Cena XIII
Maconha: Olá tudo bem? Há, há,
há, só. Muito prazer em conhecê-los, meu nome é maconha; se preferir pode
chamar haxixe, baseado, fininho, marrom. Fique a vontade. Eu sou uma substância
extraída da planta cannabis sativa. Posso
causar alguns efeitos de excitação seguida de relaxamento, euforia, problemas
com o tempo e espaço, você pode ficar falando sem parar e ficar com muita fome.
(A famosa larica), também posso deixá-lo pálido, com os olhos vermelhos,
pupilas dilatadas e boca seca. Sua memória pode esquecer fatos bem recentes e
há quem apresente alucinações, diminuição de reflexos e a famosa paranoia.
(Entra Zezinho) - Olá Zezinho, já és um fumante;
cigarro no bico; todo rapaz...
Zezinho: E quem é você?
MACONHA: O Dennis não falou?
Ele disse que você tava afim de um cigarro diferente... Eu sou a Maconha.
Zezinho: Maconha?! Eu pensei
que você fosse mais mal encarada.
MACONHA: Viu como eu sou
atraente.
Zezinho: Mas não deixa de ser
uma droga!
MACONHA: Mas quando eu estiver
perto de você tudo vai parecer mais fácil.
Zezinho: A minha professora
disse...
MACONHA: Você vai se sentir
mais seguro.
Zezinho: E se eu me viciar?
MACONHA: É só nunca sair de
perto de mim.
Zezinho: Valeu maconha, mas
eu tenho que ir.
MACONHA: Que isso Zezinho,
amarelou? Ih, é um bebê... Como você está vendo eu não sou tão feia assim!
Vamos só um trago. Ta com medo de mim, é?
Zezinho: Bebê uma pinoia eu
sou um rapaz, sou quase adulto. Eu vou mostrar pra Dennis que sou
invocado. E que não tenho medo de
você...
(Coreografia de passagem de tempo com Zezinho e a
maconha)
Zezinho: Maconha eu estou
apaixonado por você. Não consigo viver sem você.
Maconha: Calma, Zezinho. Você
nem me conhece direito.
Zezinho: Não, não, não me
deixe só. Preciso de você...
Maconha: Você terá outras em
sua vida. Eu preciso ir. Preciso fazer outras cabeças.
ZEZINHO: Logo agora que eu me
apaixonei por você? Não faça isso maconha... Não vou conseguir viver sem você!
(Zezinho fica chorando. Entra Dennis).
Cena XIV
Dennis: Zezinho, meu irmão.
Ta vacilando?
Zezinho: Eu preciso da
maconha. Não consigo viver sem ela.
Dennis: Calma, Zezinho.
Maconha é coisa de criança. Vou lhe apresentar a minha amiga Pedra. O seu
efeito é muito mais rápido e mais poderoso. Ela vai levar você a lugares que
você nunca foi.
Zezinho: Ela vai me fazer
esquecer a maconha? Então vamos lá... Vamos rápido...
Dennis: Vai lá Zezinho,
aperte o cinto que a viagem é truculenta...
Zezinho: (fuma e viaja no
efeito da droga) Meu irmão, tem mais aí?
Dennis: Acabou, Zezinho,
agora é com você.
Zezinho: Poxa, nem acabei de
fumar direito e já quero fumar mais... Tenho que ir à batalha.
Dennis: Isso, Zezinho, pode
ir. Aproveite e Leve para os seus amigos. Eles também precisam conhecer. (Saem)
Cena XV
D. Marica: Alcoolino, eu estou
muito preocupada com Zezinho. Ele só tem a roupa do couro. Já vendeu tudo que
tinha.
Alcoolino: Ontem eu ouvi lá na
bodega que ele assaltou um pedreiro que vinha da construção.
Marica: Agora ele só pensa
nessa tal de pedra.
Alcoolino: Temos que entregá-lo
ao juizado.
Marica: Mas ele é nosso
filho. Temos que ter responsabilidade.
Alcoolino: Agora eu não posso.
Marquei um jogo de baralho lá no boteco do Joca. Depois a gente ver isso.
(Saindo) Vou já perder a final do brasileirão... Por causa de uma alma sebosa
que não tem mais jeito.
MARICA: Pra fazer o menino é
muito fácil agora quando é pra cuidar só sobra pra mim.
ZEFINHA: Mãe eu não suporto
mais Zezinho! Você quem vai decidir se quem fica aqui é ele ou eu! Ele está
louco! Até as minhas calcinhas ele já vendeu por causa desse crack. Minhas
amigas não querem mais sair comigo. Os pais delas não deixam mais. Na escola
ficam me chamando de noiada. Até na rua as pessoas quando me ver mudam de lado.
(Chora).
MARICA: (chorando) Ai minha
filha, eu também não sei o que fazer. Fui à escola a diretora disse que ele foi
expulso, fui ao hospital disseram que lá não tinha médico pra drogado, fui à
delegacia disseram que ele não nem pode ser preso que ele menor, nos abrigos
estão lotados nem um lugar quer me ajudar. (Liga a TV)
Repórter: A maneira com que os
pais lidam com o assunto tem muito mais efeito sobre o jovem do que as
informações que são dadas. Ou seja, o que se faz é muito mais importante do que
o que se diz.
MARICA: (desliga a TV) E essa
novela que não começa...
Cena XVI
(Entra Zezinho completamente drogado e começa a ter
alucinações.)
Dependência: Jovem Zezinho
ouça-me: Se você quiser jamais existirei em sua vida. Eu sou o impulso que leva
uma pessoa a usar uma droga de forma contínua ou frequentemente para obter
prazer. Quando você não consegue controlar o consumo de drogas dá cartão verde
para que eu tome conta de sua vida. Eu sou a dependência... Posso ser física e
psicológica. Quando o seu corpo fica desejando a droga é a dependência física,
a famosa síndrome da abstinência...
(Aparece abstinência)
ABSTINÊNCIA: Olá, me chamou? Ó... Querido
dependente! Vou fazer de sua vida um inferno.
Dependência: Calma abstinência...
Bem, já a dependência psicológica é um estado de mal-estar e desconforto também
conhecido por impaciência.
Impaciência: Olá dependente
coitado, farei com que o vazio e a falta de concentração preencham a sua vida.
(Zezinho desperta)
Zezinho: (Correndo), Meu Deus
o que faço?! Não aguento mais, estou morrendo... Tenho que parar com esse
vazio. Apenas uma noite sem usar essa droga e já estou assim, querendo roubar,
querendo matar. Eu tenho que parar. Preciso de ajuda. Não usarei mais...
(Entra a dependência, abstinência e a impaciência).
Dependência: Está precisando de
ajuda, Zezinho? Estamos aqui para ajudar você!
Abstinência: Escute Zezinho, como
sabes, eu sou a síndrome da abstinência e se você parar de usar droga, vou
causa-lhe náuseas, vômitos, tremores nas mãos e até mesmo a morte.
Zezinho: Como vocês querem me
ajudar? Me matando?
Impaciência: Você não precisa
morrer agora. Esse mal-estar e desconforto que você está sentindo, essa
ansiedade, essa sensação de vazio, a perda da concentração, tudo isso é
justamente o meu poder. O poder da impaciência! Ou melhor: a dependência
psicológica.
Dependência: Isso mesmo Zezinho! E
tudo isso pode ser evitado. Vá tomar uma pinga, fumar um cigarrinho e dá uma
“tapinha” na maconha ou crack. Tudo isso vai ser coisa do passado, você será
feliz de novo.
Zezinho: Quem são vocês? Onde
vocês estão?
Dependência: Pra começar, nós
estamos dentro da sua cabeça. Precisamente no seu cérebro.
Abstinência: Zezinho deixe de
conversa fiada e vá tomar uma bicada que esses tremores acabarão.
Impaciência: É Zezinho, basta
fumar unzinho que o mal-estar e a ansiedade sumirão.
Zezinho: Acho que vocês estão
certos.
Dependência: Isso mesmo. Zezinho. Se
o problema for grana, nós estamos com você. Faça o que puder.
Zezinho: Não, não, não. Vão
embora. Preciso de ajuda.
Dependência: Zezinho eu não posso
ir embora. Eu sou a dependência... Junto com abstinência e a impaciência
estamos dentro de você. Enquanto você permitir ficaremos aqui. E trabalhando
para que você não tenha dignidade, respeito, paz, nem alegria. Você vai roubar,
matar, mentir, perder tudo que a vida tem de melhor. Tudo isso em meu nome: A DEPENDÊNCIA. Nós não sairemos daqui. Só
você pode nos expulsar. Olha ali Zezinho uma vítima, vai lá pode ter uns
trocados na bolsa dela.
Cena XVII
Zezinho: (tirando o revolver)
– parado ai... Isso é um assalto! Passando a bolsa, vamos! Vamos!
Vítima: Não, por favor. Esse
dinheiro é pra comprar o leite do meu filho.
Zezinho: Que nada, passando se não vai comer chumbo.
Vítima: Não, não faça isso.
Zezinho: (atira) Eu avisei.
Cena XVIII
MARICA: (liga a TV)
Repórter: A droga faz mais uma
vítima. Quem vai cuidar dos seus filhos. Até quando viveremos com medo. Quem será
o próximo?
MARICA: (desliga a TV) Essa
TV só passa desgraça!
Cena XIX
(Entra Dida declamando o texto; depois Zezinho com a
bola)
DIDA: A verdade é dolorosa
e real. Já é hora de encará-la com seriedade e com verdadeiras atitudes. É
preciso estimular a juventude a obter novas formas de prazer. O verdadeiro
“barato” pode ser obtido através da arte e do esporte. Educação é uma
verdadeira fonte de baratos.
ZEZINHO: E aí, Dida?
DIDA: Ai, Zezinho pensei que
você não viesse mais. Tava ensaiando o texto que vou apresentar hoje. E aí,
vamos pro campinho?
ZEZINHO: Dida... Vamos pro
campinho hoje não. Será que ainda tem vaga lá na escola de artes?
DIDA: Claro, Zezinho. Vamos
lá fazer a matrícula. (Saem)
Pano
(Início do
debate)
Cerca de
7.000.000 de pessoas (quase três vezes a população do RN morre prematuramente a
cada ano, em todo mundo devido ao uso de álcool, tabaco e outras drogas).
A cada minuto
inúmeras crianças e adolescentes se envolvem com drogas nas escolas.
O alcoolismo é
a terceira doença que mais mata no mundo.
É considerada
dependente a pessoa que sente um forte desejo de consumir drogas