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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A Zona de conforto

literatura de cordel - título original: A Ponta do Pinto - Wilson Palá. foto: internet/reprodução


A Zona de conforto

Na teoria do caos
Uma simples borboleta
No bater de suas asas
Que por aqui o cometa
Pode causar um tornado
No extremo do planeta.

Pra não dizer “era uma vez”
Assim eu vou começar
Essa história intrigante
Criada para encucar
Tirada de fatos reais
Que não precisa inventar.

Não é bem a borboleta
O assunto principal
Pois, começando assim
Fica mais original.
É sobre a transformação
Do ser individual.

Veja, porém, a lagarta
Que um cientista estudou
O seu nome é Jean Faber.
Esse francês pesquisou
Comportamentos dos bichos
E veja o que encontrou:

Tipo “Processionária”
A lagarta analisada
Geralmente, ela anda
Em coluna, enfileirada
Os olhos semicerrados
E a cabeça pregada.

A companheira da frente
Quem conduz o caminhar
A outra pregada atrás
Por ela vai se guiar
Não importa o que aconteça
O rumo não vai mudar.

E em nome da ciência
O cientista colocou
As lagartas em um círculo
Num vaso que ele criou
E a cabeça da primeira
Na última ele pregou.

Por sete dias e noites
As lagartas caminharam
De fraqueza e de fome
Logo, logo definharam
Todas, porém morreram
E o círculo não largaram.

Mas o cientista colocou
Dentro do vaso criado
Comida suficiente
Pro grupo ser saciado
Porém, nenhuma lagarta
Ousou romper o translado.

Agora imagine só:
Se pelo menos uma saísse
Daquele círculo fechado
E o alimento visse?
Encontraria respostas
Que para o grupo servisse?

Deixemos as suposições
E vamos aventurar
Mas, pra isso é preciso
A gente se situar
De que ponto partiremos?
E onde iremos parar?

É na zona de conforto
Que se inicia a jornada
Um lugar em que a mudança
Não é muito desejada
Onde o hábito e o costume
Nega qualquer virada.

Coloquemos a juventude
Como foco principal
Cada jovem tem seu grupo
Cada membro pensa igual
E todos vivem num círculo,
Numa ordem social.

Sem querer fugir do círculo,
Enxergar outro horizonte
Um vai indo atrás do outro
Não importa o que apronte,
Foge do conhecimento
Deixa de beber na fonte.

Os direitos e deveres
Que formam a sociedade
Por eles são esquecidos
Não percebem de verdade
O seu círculo se limita
A uma vã felicidade.

Direito à liberdade,
Saúde, educação.
Ao lazer e à cultura,
Direito à informação,
Trabalho justo, votar
E a alimentação.

Direito de ir e vir
Em qualquer situação,
Moradia e segurança,
Ter sua religião,
De não sofrer preconceito,
Nem a discriminação.

São pilares importantes
Que formam a sociedade
Mas é preciso empenho
Para encontrar de verdade
Sair do círculo fechado
E ver a realidade.

Será que tem relação
Com o estudo pertencente
Às lagartas de Jean Faber?
Pois, numa ação pertinente
Ao círculo é sugerido
Ter um olhar diferente.

Os direitos e deveres;
Um novo modo de olhar;
O pensar cidadania;
Ações protagonizar;
Buscar sentido no círculo
E sempre questionar.

Cada jovem é a borboleta
Na construção social
Que quando bate as asas
Tem poder especial
Que causa a transformação
Verdadeira, essencial.


Wilson Palá

Estrela de Cinco Pontas

Contos para a juventude - Wilson Palá

Estrela de Cinco Pontas


Estrela de Cinco Pontas é um conto para a infância e juventude. Toda trama acontece em cenários naturais e culturais do bairro de Mãe Luíza. Propõe um encontro fantástico com bruxas, bruxos e lendas folclóricas instigando o imaginário da garotada numa viagem em lugares como a praia de Mãe Luíza, as trilhas do parque das dunas, o farol e o casarão da praia do pinto. Use a imaginação e boa leitura!

O olho de Gogó

Todo mundo sabia que aquela professora tinha um jeito bem esquisito de olhar, falar, e andar. Os seus olhos, às vezes, pareciam que estavam pegando fogo. Seus cabelos já tinham o formato de vassoura de piaçá. Sempre que ela entrava na sala de aula, era como se algo muito estranho fosse acontecer. Sempre andava com uma mochila, acredito, vivia cheio de coisas, tipo: dentes de cobra, patas de morcego, pó mágico, até mesmo uma bola de cristal. A turma toda percebia que era muito estranho tudo aquilo. Só que ninguém nunca dizia nada. Veja: havia momento em que ela ficava olhando pela janela da sala conversando com alguma coisa lá dentro do mato. Só que a mata ficava a uns cem metros da minha escola.
Um dia, essa dita professora chega à sala de aula, toda contente, trazendo dois amigos e um passarinho. Eu sentado num banco, lá atrás, fiquei só prestando atenção. Claro, bem desconfiado: eu nunca tinha visto um passarinho olhar dentro dos meus olhos como se conhecesse tudo a meu respeito. Se segura por aí, que eu vou contar como tudo aconteceu... Era um dia de Sexta-feira, uma hora e trinta e cinco minutos da tarde. Eu e meus colegas tínhamos acabado de entrar. A professora entrou muito animada com a sua famosa mochila a tira colo. Os seus cabelos de vassoura até que estavam penteados. Foi logo dizendo:
-Boa tarde, turma? Hoje é um dia muito especial. Vamos conhecer três amiguinhos muito legais.
Quando ela disse isso, notei que o vento entrou com muita força, fazendo um barulho assustador pela janela da sala. Arrepiou até os cabelos do meu dedão. Ela continuou:
            -Podem entrar! A turma está ansiosa para conhecer vocês.
Notei que Risadinha, meu colega da frente, arrepiou-se todo.
- Professora eu posso ir ao banheiro?
Perguntou risadinha disfarçando o medo.
- Pode sim! Mas, antes quero que vocês conheçam meus amigos: Abigail, Abel e...  Onde está Gogó?
Gogó já estava pousado na janela olhando no olho de todo mundo.
- Está aqui, tia. Olha como ele é bonito.
Disse Cacá toda contente.
- Bem, como estava dizendo: hoje é um dia especial, os nossos amigos Abi e Abigail terão que fazer uma viagem e pediram para que a nossa turma tomasse de conta de Gogó enquanto eles voltam. Isso não é maravilhoso?
- Eu e Abel precisamos fazer uma viagem e não podemos levar Gogó conosco.
- Isso mesmo. Para que tudo fique bem, Abigail vai deixar com a professora de vocês, um anel que tem dois diamantes e uma pérola de cristal. Se por acaso acontecer algum incidente com Gogó, vocês poderão se comunicar com ele.
- Isso não é maravilhoso? Agora nossos amigos precisam sair. E cuidar de Gogó, agora é nosso dever.
A professora estava segurando um livro de capa preta e vermelha. Parecia muito preocupada com alguma coisa.  Quando ela abriu a porta para os seus amigos, eu corri e fiquei espiando. Vi quando ela abriu o livro e os dois entraram. Dei um goto seco! A professora fechou o livro, e eu corri para o meu lugar. Na sala, o danado do passarinho voou para um mamoeiro perto da escola. Tia entrou, e tudo aparentava muito normal. Juro que fiquei matutando muito sobre esse livro esquisito.



O homem da mata


            De repente tia começou a fazer um ditado. Notei que, enquanto ela ditava uma palavra, falava outras que não dava pra se ouvir. Isso mesmo: ela conversava, pela janela da sala, com alguém lá dentro da mata. Rapidamente me veio à cabeça em desviar o olhar para o mamoeiro. Meu corpo gelou. Comecei a tremer como se estivesse derretendo. Ao invés do pássaro, havia uma boca com dentes enormes, pingando alguma coisa gosmenta. Juro que quase saí correndo. Quando olhei para a turma, todos estavam com os cabelos em pé. Debaixo das cadeiras, dava pra ver as poças de xixi. A professora estava com os olhos fechados e seus lábios movimentavam-se com muita pressa. O anel que Abigail lhe deu começou a brilhar e a sair uma fumaça que parecia uma imagem refletida na água. Era Gogó, amarrado com uma corrente de prata, dentro de uma gaiola de ouro; um homem com uma capa e uma cartola colorida dando-lhe choques. De repente uma voz: “Eu sou o bruxo PIF-PAF. Eu quero que vocês me entreguem o coração da professora de vocês! Se isso não acontecer até às cinco horas da tarde, matarei esse passarinho inútil e depois transformarei todos vocês em baratas cascudas. Há, há, há...”.


O livro do infinito

A sala toda ficou escura. Aos poucos, a fumaça foi saindo da sala e tudo voltava ao normal. A professora ainda estava em transe.
- E agora, tia?!
Falou Cacá quase chorando. Cacá era a única menina da nossa turma. Seu verdadeiro nome era Ana Claudia. Ela tinha oito anos e era muito carinhosa. Sempre estava vestida com roupas elegantes, eu, particularmente, tinha uma quedinha por ela. Ela sempre olhava pra mim e sorria, eu corava as bochechas, mas arriscava uma piscadinha de olho.
- Não! Não vamos entregar o coração de tia pra ninguém!
Disse, K. Positivo. Chamávamos assim, por que ele sempre tinha ideias legais. No dia anterior completara dez anos. Achávamos o mais inteligente e esperto da turma. Sempre estava disposto a ajudar alguém com a tarefa da escola. Ele, vez por outra, salvava-me das garras de Grude quando chegava com fome. E nessas fomes, chutava as cadeiras, puxava os cabelos de Aninha; até bateu na professora uma vez. Seus pais estavam desempregados e, muitas vezes, Grude vinha para escola sem fazer qualquer refeição. Como em nossa escola não tinha merenda, a gente que pagava o pato. K. Positivo chegou a dizer uma vez que era melhor eu andar com um sanduíche dentro da bolsa.
- Tia, você precisa falar alguma coisa. Estou com muito medo!
Disse Risadinha todo mijado. Ele era o mais novo da sala e também o mais brincalhão. Tinha sete anos. Seu pai era proprietário de um pequeno comércio e todos os dias ele trazia confeitos pra todos da turma. Você só não podia dizer nada engraçado na frente dele, senão era muito difícil parar de rir. Uma vez, o dono da escola foi na sala de aula fazer uma investigação de um instrumento que tinha sumido do armário da secretaria e perguntou: “Alguém pegou a rabeca?” e Paulinho Risadinha riu por quase uma hora. Só depois de muito tempo foi que entendemos que ele entendeu: “Quem pregou a meleca.”.
- Eu tenho uma ideia!
Disse, Zé Ventura...
– Eu conheço alguns amigos que podem conseguir uns brinquedinhos pra gente ir atrás desse cara.
Esse sim, era aventureiro. Com apenas nove anos de idade, já conhecia muita gente barra pesada. Sempre trazia algumas histórias das coisas que acontecia na rua. Às vezes, falava de outras crianças que reparavam carros e cheiravam cola, de assaltos e também de coisas boas que, vez por outra, aconteciam nos estacionamentos. Uma vez, ele falou de uma senhora que lhe deu roupas e brinquedos.
Encrenquinha estava muito calado, quando disse:
- Eu conheço esse lugar onde eles estão! Pelo formato das árvores que apresentou na imagem, essa região fica perto do morro do Estrondo. E eu já fui lá. Só precisamos ir lá e quebrar a cara desse cara.
Pense num pedaço de gente valente como um siri dentro de uma lata. Marcos tinha dez anos, mas seu tamanho era de quem tinha apenas seis. Como tamanho não é documento, ninguém tinha coragem de dizer qualquer coisa que lhe desagradasse.  Uma vez, ele chegou até em levar uma arma de fogo pra dentro da sala. Ele tinha uns amigos que lhe esperava na saída da escola que até metia medo em gente grande. Ele era muito inteligente e amigo de todo mundo.
- Eu nem quero me meter nisso, acho que vou embora. Disse, Prego.
Esse era o famoso Fernandinho. Isso mesmo. Não queria se meter em nenhum trabalho que envolvesse um grupo. Sempre estava disposto a ficar cochilando na sala, além de contar os dias em que chegava no horário. Dever de casa? Nem pensar. Sua preguiça era tão grande que um dia ele saiu para ir ao banheiro, aproveitou e foi tirar uma soneca bem debaixo da escada que leva para o primeiro andar. A escola toda se mobilizou para encontrá-lo. Só foi encontrado no fim do expediente quando a zeladora foi varrer debaixo da escada. Mas quando decidia participar de alguma coisa, sempre ia até o fim.
- Não, não e não! Vamos chamar a polícia e dizer que um bruxo quer matar a nossa professora!
Falou, Charla. Chamamos de Charla porque ele é muito charlatão. Quem acredita em suas histórias sempre perde alguma coisa. Pense numa pessoa de nove anos, mentirosa! Ele é capaz de vender a sua própria alma para conseguir o que quer. João Maria é o seu verdadeiro nome. Tem uma lábia de fazer inveja a qualquer político. Na primeira vez que nos encontramos, só não fui pra casa de cueca porque Cacá me emprestou uma toalha. Com as garotas, ele tem o maior respeito. Geralmente as garotas das outras salas iam deixar bilhetinhos para ele. Era a maior briga. Uma vez quase que eu chorava quando vi Cacá colocar um bilhete no seu bolso.
- Charla, você parece que é “Abigobel!” Quem vai acreditar nessa história? Nós nem temos prova. O quê que vamos dizer a polícia? Que no anel de tia apareceu uma imagem mostrando que um homem todo colorido raptou um passarinho e que o valor do resgate é o coração da nossa professora e, se não levarmos, ele vai nos transformar em baratas cascudas? Quem vai acreditar nisso? Disse, Grude.
Velho Grude! Seu nome verdadeiro é Francisco. O que mais me chama atenção nele é o fato de nunca aceitar uma ideia. Ele sempre busca um argumento para dizer que a ideia não funciona. A sua roupa é tão amassada que o pessoal das outras salas o apelida de gênio. Dizem que ele saiu de dentro de uma garrafa. Quase todo o dia tinha uma briga.
- Calma, meninos! (Saindo completamente do transe) Não podem dizer isso pra ninguém! Eu preciso contar uma coisa pra vocês: desde que eu fui criada que esse homem colorido, o bruxo Pif-Paf vem querendo me pegar e ficar com o meu coração. Eu sou uma bruxa de luz protegida pelo pássaro Gogó e ele é um bruxo de trevas. Somos frutos da imaginação de uma autor. Eu vivo para proteger as crianças; ele, para destruir. O livro da sabedoria das bruxas diz que se um bruxo de trevas receber das mãos de uma criança o coração de uma bruxa de luz ele adquire os poderes para criar a sua própria história. E serei para sempre a sua escrava.
- O que vamos fazer? Se essa história do pássaro é mentira, quem são Abi e Abel? E nós, o que estamos fazendo nessa história?
Cacá perguntou dando um goto seco.
- Eles são os autores dessa história. Que não é de mentira! Eles criaram o pássaro Gogó para me proteger do Bruxo Pif Paf. Como o bruxo descobriu o segredo para modificar a história, eles vieram me avisar para tomar cuidado. O pássaro Gogó é onde está toda imaginação dos autores. Se o bruxo destruir o pássaro, ninguém terá mais imaginação. Vocês têm que levar o meu coração para o bruxo.
-Nunca!
Todos Gritaram. K. positivo perguntou se não havia uma forma de destruir o bruxo.
- A única forma de mandar o bruxo Pif Paf de volta para escuridão e faze-lo esquecer do segredo de mudar o rumo da história é encontrando a estrela de cinco pontas!
- Estrela de cinco pontas?!
Todos perguntaram ansiosos.
- Sim! É a única esperança para lutar contra o bruxo das trevas. Só que cada ponta da estrela está guardada em lugares diferentes da costa leste e protegidas pelo fogo do batatão, pelo lobisomem, pela a caipora, pela mula-sem-cabeça e a parte mais importante: está protegida pela mentira.
Foi aí que pensei: essa devia ser mole! Mentir é comigo mesmo.
Eu? Meu nome é Gustavo. Deram-me uma fama de mentiroso e sonhador porque gosto de inventar histórias. Sempre que me aparece algo interessante eu crio uma história e minha imaginação faz o resto. Tenho dez anos, sou bonito, charmoso, quer dizer: isso é o que eu acho. Mas nem todo mundo pensa igual a mim. Por isso me chamam de Trancoso. Só que agora eu estou confuso: não sei se estou narrando essa história ou se sou apenas um figurante narrador em outras histórias. Confuso, né?
- Professora, se por acaso a gente encontrar a estrela, o que vai acontecer? Perguntou K. Positivo.
- A primeira ponta tem o poder de deixar até duas pessoas invisíveis; a Segunda pode abrir duas portas espaciais para qualquer lugar; a terceira pode transformar duas pessoas em qualquer animal; a Quarta pode fazer com que uma pessoa volte a viver; e a Quinta ponta guarda o segredo para escapar do bruxo, porém, ninguém conhece, ainda, o que ela pode fazer.
- Vamos começar por onde? Perguntou Charla.
- Segundo o livro do infinito, as pontas da estrela podem estar na praia, dentro de uma pedra conhecida como pedra da baleia; no morro careca perto das árvores dos cipós; no farol, em cima do para-raios; no casarão da praia, no tronco de um dos coqueiros; e a outra, encantada num corpo de um cachorro, que vive andando pelas ruas do bairro. Pode ser qualquer cachorro.
- Então o que estamos esperando?
- Vamos logo!
- Calma, tenho que convencer a coordenadora que temos que fazer atividade extra classe. Vocês esperem aqui, eu volto logo!
Assim que a professora saiu, eu saí atrás e vi quando ela abriu o livro e entrou igual Abi e Abel. Cheguei mais perto e olhei a página. Era o número vinte e dois. Curioso do jeito que eu sou comecei a ler o que estava escrito: “a coordenadora disse que estava tudo bem, mas a turma teria que voltar antes das cinco horas...” só li essa parte e voltei correndo pra sala. Quando abri a porta da sala K. Positivo foi logo dizendo:
- Ninguém pode deixar que o bruxo pegue o coração de tia!
- Eu irei defendê-la nem que seja com a minha própria vida!
Disse Grude colocando a mão no peito.
Cacá interviu desorientada: -Vocês perceberam que a professora não disse o que estamos fazendo nessa história?
Não quis nem dizer que essa é a nossa história. De repente uma nuvem muito escura começou a se formar bem em cima da escola. Parecia que iria cair uma chuva muito forte. Foi quando uns pingos de lama gosmenta pingavam no chão se desmanchando em gargalhadas: há, há, há...
- Aiiiii... Foi uma gritaria só quando tia abriu a porta.
- Pronto! Tudo resolvido. Agora só temos que tomar alguns cuidados para que nada de errado venha acontecer. Primeira regra: todos têm que ficar unidos. K. positivo, Encrenquinha, e Trancoso permaneçam sempre juntos. Grude, Zé ventura e Charla não se afastem. Risadinha, Cacá e prego façam tudo para não se afastarem.
- Professora, qual ponta vamos procurar?
Perguntou prego já com preguiça de ir.
Vamos descer à praia enquanto está cedo. Prestem atenção no fogo do batatão.


O fogo do batatão

Segundo uma lenda local, o fogo do batatão é uma das variantes do boi tatá. Numa versão, conta que essa assombração é uma alma de uma moça que foi condenada a encontrar o feto do seu filho que ela havia abortado e jogado no mar. O seu nome era Batinha, saiu para o mar com uma canoa e uma lamparina que acabou queimando tudo. E ela só aparece nessa bola de fogo.
Enfim saímos da escola. Todos estavam desconfiados e morrendo de medo de tudo. Cada cachorro que passava no meio da rua, Encrenquinha corria atrás pra ver se era a quinta ponta da estrela.
- Não precisa fazer isso, Encrenquinha, a quinta ponta só aparece quando encontrarmos todas as outras.
- Tia, porque você não tenta falar com Gogó através do anel?
Quando Cacá disse isso, já tínhamos chegado à praia.
- Impossível Cacá. A gaiola de ouro impede qualquer comunicação. Vamos dividir o grupo e vamos atrás de pistas que nos leve até a pedra onde está a estrela.
- Tudo bem. Disse K. Positivo. – Eu, Encrenquinha e Trancoso vamos procurar na praia da pelada.
- Eu, Cacá, prego e tia, é claro, vamos ficar nessa área por trás do hotel.
Falou Risadinha com a sua mania de não sair de perto da professora.
Grude, Zé Ventura e Charla foram à praia de Miame.
O bruxo Pif-Paf que observava tudo do seu esconderijo, colocou, atrás do grupo de K. Positivo, uma Maria farinha gigante.
Quando vimos uma simples Maria farinha quase do tamanho da professora, corremos desembestados para dentro do tubo do esgoto que ficava perto do hotel. O tubo estava cheio de baratas, ratos, lagartixas e abelhas. O bruxo achando pouco mandou umas dez cobras venenosas para nos atacar. Foi quando corremos para saída. Encontramos a Maria farinha bem na boca do tubo.
E agora o que vamos fazer? Eu gritava pra ver se alguém tinha alguma boa ideia.
- Vamos rezar.
Disse Encrenquinha desesperado.
- Se a gente correr para dentro, as cobras nos atacam, se for para fora, a Maria farinha vai nos fazer de isca.
Disse K. positivo.
Enquanto isso o grupo de Risadinha avistou uma pedra num formato de uma estrela. O sol quando batia na pedra, refletia uma luz como se fosse uma escama de peixe. Toda vexada, Cacá correu ao encontro da pedra. Quando tentou segura-la, imediatamente, desmanchou-se em baratas cascudas que, dando gargalhadas, corriam atrás do grupo.
- Vamos pedir ajuda aos meninos na praia de Miame.
Disse tia se sacudindo para tirar as baratas que invadiam os seus cabelos.
Deixa-me falar um pouquinho de tia. Apesar de ela ter um cabelo parecido com uma vassoura e ter, eu acho, uns dez quilos a mais do seu peso normal, ela é uma mulher muito bonita, carinhosa, atenciosa e, claro, como todas as professoras, tem o seu momento de chatice. Mas uma coisa eu digo: ela é uma professora que todo mundo queria ter.
Na praia de Miame, bem no meio da última pedra que fica dentro d’água os meninos estavam procurando alguma pista da ponta da estrela.
 -Zé Ventura, olha o que vem ali nas bandas do forte!
Quando Zé Ventura e grude olharam quase que caíam de cima da pedra.
- Peguem quantas pedras puderem e vamos correr e pedir ajuda a tia. Qualquer coisa meta a pedrada.
E, pé na bunda. Todos corriam desenfreadamente para o encontro com a professora e seu grupo. Dentro das manilhas do esgoto, os meninos não sabiam o que fazer. Foi quando a Maria farinha disse: o que é o que é: só são duas palavrinhas; a primeira nasce branco, vive amarelo e morre cinza. A segunda tem na perna, dá na terra e está no aumentativo?
 -Pronto! Além de pensar numa forma de sair daqui, ainda ter que resolver uma charada?
Disse Encrenquinha tirando uma lagartixa que subia em sua roupa. Enquanto isso, tia e os meninos tentando se livrar das baratas, nem prestaram atenção nos outros que vinham olhando pra trás, com medo da bola de fogo. Só deu pra ouvir aquele barulho. Baque!
-Tia! A senhora está cheia de baratas!
Falou grude levantando-a e dizendo pra todos correrem rápido. K. Positivo estava tão concentrado com a charada da Maria farinha que nem percebia que tia e os meninos vinha correndo aperreados e quase sendo queimados com o fogo do batatão.
-É o fogo do batatão!
Respondeu K. Positivo sem perceber que o fogo estava queimando todo mundo. Assim que ele respondeu a charada, todo feitiço desapareceu: a Maria farinha, o fogo do batatão, as baratas e os outros bichos.

A invisibilidade

De repente, as pedras que estavam nas mãos dos meninos foram se juntando e formando uma só. A pedra que se formou era do formato de um ovo. Tia pediu que fizéssemos um círculo ao redor da pedra. Mas antes perguntou:
- Onde vocês encontraram essas pedras?
- Pegamos em cima da pedra que fica lá dentro do mar, ela parece com uma baleia. Assim que pegamos as pedras, uma bola de fogo apareceu lá nas bandas do forte.
Disse Charla. Tia pegou um fio de cabelo de cada um, pediu que fechássemos os olhos. Como sou esperto, fiquei com a beira do olho aberta que ela nem percebeu. Meu corpo começou logo a tremer quando vi tia tirar a sua própria face com as suas mãos, deixando um nariz enorme aparecer. Seus olhos ficaram tão azuis que parecia o céu sem nenhuma nuvem; os cabelos que demos pra ela foram envolvendo o ovo de pedra, fazendo aparecer a ponta da estrela.
- Pronto podem abrir os olhos.
Quando abrimos, quer dizer quando eles abriram, tia estava segurando a ponta da estrela.
- Agora vamos! Não podemos perder mais tempo. Temos que partir para o morro careca.
Quando íamos saindo, o bruxo Pif-Paf passou voando na forma de uma barata e disse:
-Vocês conseguiram! Mas lembre-se que isso é apenas o começo! Há, há, há...
Quando chegamos à via costeira, bem na entrada que dava para o parque das dunas, havia uma viatura da polícia ambiental que proibiu a nossa entrada no parque.
- Tudo bem!
Disse tia se afastando. K. positivo falando bem baixinho para os policiais não ouvir, disse:
- Vamos usar os poderes da estrela.
Só que o poder da estrela apenas deixava duas pessoas invisíveis e éramos nove. O tempo entardecia. Os policiais não arredavam o pé da entrada do parque. O jeito foi chamar tia e pedir para que ela nos unisse como se fôssemos uma só pessoa para poder usar o poder da invisibilidade da estrela. Dito e feito. Demos as mãos, seguramos na ponta da estrela e dissemos: “Protegida pelo fogo, a terra, a água e o mar, deixe-nos invisíveis para um coração salvar.”
Passamos na frente da viatura e Encrenquinha ainda estirou a língua para os policiais. Ninguém viu nada!

O neguinho da goiabeira

Lá dentro do parque foi fácil seguir pela trilha. Até aparecer o Neguinho da goiabeira pedindo que chovesse para poder brincar na goiabeira. Essa história do Neguinho da goiabeira, não passa simplesmente de uma lenda. Tia pensa que eu não sei que ela inventou essa história só pra gente não brincar na goiabeira. Olha só que coisa: Era um menino que só vivia brincando na goiabeira de dia e de noite. Não queria fazer mais nada a não ser brincar na goiabeira. Não ia pra escola, não brincava com mais ninguém e vivia desobedecendo a sua mãe. Isso acontecia antes de construírem o prédio onde hoje é a escola. Até que em certo dia, de muita chuva, o menino já tinha faltado aula e desobedecido a sua mãe e foi brincar na goiabeira que estava toda molhada. Quando estava lá no alto, no último galho, escorregou e bateu a cabeça no chão. E lá mesmo morreu. Então todas as vezes que está chovendo, quem for brincar na goiabeira, o Neguinho fica tentando derrubar até a pessoa cair e morrer. Por isso que ele queria que chovesse para ninguém se aproximar da goiabeira. Só que agora era de verdade. Ele, o próprio neguinho da goiabeira estava ali, bem na minha frente. Começamos a perguntar a tia se ela tinha algum feitiço que fizesse chover para ajudar o Neguinho da goiabeira.
- Calma, meninos! Eu tenho um plano: a gente vai se deitar no chão e vai ficar dizendo “Urubu estou morto”! Como ainda temos o poder de uma pessoa ficar invisível, K. Positivo será o escolhido. Assim que o urubu descer, ele segura em suas pernas e sobe até as nuvens levando esse pó mágico para jogá-lo em cima da nuvem e depois dar três cutucadas com o dedo mindinho. Esse é o segredo para fazer a chuva. Agora preste atenção que tem que ser dada as três cutucadas na barriga da nuvem.
Assim fizemos. Já deitados, começamos a gritar: “urubu, estou morto” e o urubu legista veio fazer a inspeção para confirmar, quando K. Positivo dizia segurando a ponta da estrela:
- Vou subir no arco-íris, onde o vento faz a curva, me tornando invisível para ir buscar a chuva.
A estrela novamente começou a brilhar feito um arco-íris deixando K. Positivo invisível. Ele pegou o pó mágico com tia. O urubu legista já estava cheirando o pé de Risadinha, quando só se ouviu o grito rouco do urubu e sua disparada para cima. K. Positivo já estava pendurado nas penas do rabo do urubu que deu um voo perto de uma nuvem, dando tempo dele jogar o pó mágico e dar duas cutucadas. Quando ia dar a terceira, o urubu desceu em busca de uma carniça. A nuvem começou a relampejar começando uma chuva ácida que destruía tudo onde ela caía. Zé Ventura, rapidamente, tira do seu bisaco uma baladeira e pede para que a professora transforme uma pedra em um dedo mindinho. Tia apenas pegou na pedra para que ela se transformasse num dedo.  Zé Ventura mirou e atirou bem na barriga da nuvem. Dando assim a terceira cutucada. Enfim, tudo deu certo! Começou a chover bem gostoso. K. Positivo ainda estava segurando as penas da calda do urubu. Notei que uma das penas ficou com a ponta brilhosa, pedi para K. Positivo e a guardei.

A Mula sem cabeça

O Neguinho da goiabeira nos deixou passar e ainda nos ensinou o caminho para as árvores dos cipós. Ao chegar ao morro careca, três caminhos deixavam dúvidas para onde ir; qual caminho escolher? Risadinha foi logo correndo atrás de um camaleão que corria pelo caminho do lado direito. Cacá estava lá em cima de um morro que dava para o caminho da esquerda. Ela apreciava a beleza de uma orquídea que chamava atenção pelo formato de sua flor.
- Risadinha, não vá por ai!
Grita K. Positivo. - Lembre-se do que o Neguinho da goiabeira disse: “sigam os seus corações.” Se continuarmos no mesmo caminho, nada mudará. Se formos atrás de camaleões, será difícil encontrar a verdadeira imagem. E quem segue a flor, segue o seu coração.
- Olha ali, no farol!
Disse Grude apontando para a mula-sem-cabeça que andava de um lado para o outro na varanda do farol.
- Vamos nos concentrar nas árvores dos cipós. Depois cuidaremos da mula-sem-cabeça.
Disse tia já caminhando para o caminho da flor. Na entrada do caminho da flor, havia uma descida que só dava pra atravessar se fosse pendurado num cipó. Zé Ventura afoito como sempre, pendurou-se, voou e saltou lá no outro lado. De um em um, fomos descendo o morro. Na vez de tia, quando estava no meio do caminho, o cipó quebrou e baque! Ela caiu com pedaço de cipó na mão. Como era sexta feira, seis caiporas se aproximarem de tia pedindo a cachaça e fumo.
- Eu só tenho esse cipó quebrado na mão. Mas que eu queria mesmo era sair daqui! Nem que fosse para a boca de uma baleia!
De repente, o cipó que estava na mão de tia começou a brilhar como um arco-íris e abriu uma porta bem no meio do mato.
- Pulem todos dentro da porta, rápido!
Parece até que pulamos todos de uma só vez. Tudo rodava como se estivéssemos dentro de um liquidificador.
-Tia, estamos indo pra onde?
Perguntou Charla com a cabeça tonta de tanto girar.
- Eu não sei, não. Só sei que nos livramos das caiporas.
Tufo! Tia caiu e todos caem em cima dela. Era um lugar macio com um cheiro muito forte de peixe e um barulho de água no lado de fora. Quando percebemos, a bocarra abria-se deixando entrar uma enxurrada d’água nos arrastando para a sua garganta.
- Eu tenho uma ideia que eu vi no filme de Pinóquio!
Disse prego segurando em um dos dentes da baleia para não ser engolido.
-Temos que fazer cócegas na sua garganta para que ela jogue o ar para fora e nós possamos sair juntos.
Assim fizemos: Cacá segurou no pé de Prego, Grude no pé de Cacá, Charla no pé de Grude e assim por diante. Quando tia segurou no pé de K. Positivo, ela escorregou e foi sendo levada para o estômago da baleia. Zé Ventura já estava enrolando o pião que tinha trazido no bisaco. Deu um lance certeiro bem na garganta da baleia, fazendo-a esguichar todo o ar, e nós juntos. Tia, esperta, pegou logo a ponta da estrela e pediu que abrisse a outra porta lá para o portão do farol. Aquela mesma sensação de estar dentro de um liquidificador apareceu. Tufo! Caímos todos em cima de todos. Dessa vez, tia que vinha caindo em cima de nós. Só deu tempo de nos afastar e... Tufo! Todo mundo começou a rir. Tia toda escangalhada no chão.

A transformação

Olhando pra cima, só víamos o pescoço, sem cabeça, da mula.
- Eu tenho uma ideia para enganar essa descabeçada
Disse Charla.
- Vamos abrir uma porta até lá em cima. Enquanto um sobe, os outros ficam distraindo a mula.
- Não vai dar certo. Não podemos fazer mais nenhum pedido.
Disse tia com uma cara de quem estava tramando alguma coisa. O tempo passava muito rápido. Tínhamos que encontrar uma solução bem depressa. Foi quando tia disse:
- Meninos... Eu não queria que vocês vissem isso, mas agora é preciso.
Tia tirou uma parte dos seus cabelos, apontou para o sol e disse: “Berum, berum”. Imediatamente transformaram-se em uma vassoura voadora. Ela montou na vassoura e, quando foi saindo, Cacá pulou e agarrou-se nela, dizendo que também iria. Até ai tudo bem. Subiram até o para-raios, sem que a mula nada percebesse e pegaram a terceira ponta da estrela. Na descida, Cacá deu um grito de “viva”, chamando assim a atenção da mula que pulou bem em cima da vassoura fazendo com que Tia e Cacá se desequilibrassem e caíssem de mau jeito, deixando de viver. A mula saiu voando, sem destino, pendurada na vassoura de tia. Quando vimos tia e Cacá sem respirar, ficamos sem saber o que fazer. De um por um, todos começamos a chorar. Até que K. positivo disse:
- Ela está segurando a terceira ponta da estrela. Segundo o livro do infinito, nós podemos transformar duas pessoas em qualquer animal. Eu e Encrenquinha vamos lá no casarão da praia pedir ao lobisomem para dizer onde está a ponta da estrela que faz voltar a viver.
- Como vamos chegar até lá e convencer ao lobisomem que temos que pegar a ponta da estrela e salvar tia e Cacá?
- Você se transforma em águia e eu em lobo. E vocês não saiam daqui!
Assim fizeram. Encrenquinha transformou-se em águia e K. Positivo em lobo. A águia segurou o lobo e voaram para o casarão da praia. Eles apenas não sabiam que a ponta da estrela só tinha poder de salvar uma só pessoa. E como ia salvar Tia e Cacá?

A volta da vida

Chegaram lá no casarão. Encrenquinha transformou-se em homem e os dois, o lobo e o homem, foram conversar com o lobisomem. Procuraram na piscina desativada, nas casinhas dos empregados e nada. Quando iam entrando na sala principal do casarão, só deu pra ver aquele pulo na frente dos dois. Imediatamente, começaram a falar. Encrenquinha na linguagem de homem; e K. Positivo, na linguagem do lobo. Diziam ao mesmo tempo: “lobisomem, você tem que nos ajudar” A professora morreu e tem que ser ressuscitada. O lobisomem, quando estava com o instinto de lobo, ouvia K. Positivo. Quando com o instinto de homem, ouvia Encrenquinha. Assim decidiu ajuda-los. Levou os dois para o sétimo coqueiro e desenterrou a quarta ponta da estrela. Deu para Encrenquinha que se transformou em águia novamente e voou trazendo K. Positivo para onde estávamos. K. Positivo apenas colocou a ponta da estrela na mão de tia e ela levantou-se de supetão, dizendo:
- Temos que nos apressar! Precisamos encontrar a outra parte da estrela. Abigail e Abel estão voltando para nos ajudar. E se não estivermos com o pássaro Gogó, eles não poderão mais intervir na história do bruxo Pif paf.
O farol por uns instantes transformou-se no bruxo Pif-Paf que disse: vocês só conseguiram ressuscitar uma pessoa. Vocês perderam! Há, há, há...
Eu já estava com um plano, antes mesmo que tia tivesse voltado a viver. Lembrei que na pena que peguei do urubu, a luz que lá brilhava, me avisava que no momento exato eu saberia para que serviria. Pedi a professora para que me desse o livro da capa vermelha e preta. Fui direto à página que estava escrito que tia e Cacá tinham morrido e com a pena do urubu acrescentei que Cacá apenas havia desmaiado. Quando terminei de escrever, Cacá estava reclamando de uma forte dor de cabeça.

O pedido

Só sei que saímos correndo de volta para a escola. Perto da favela, uma matilha de cães correu atrás da gente. Tia morria de medo de cachorros, correu na frente e pisou na fresta de uma pedra do calçamento, caiu e bateu com a cabeça. Os cachorros ficaram rosnando e cercando a gente. Tia começou a falar numa voz de bruxa:
- Meninos, vocês caíram direitinho na minha armadilha. Eu sou a filha do bruxo Pif-Paf. Vocês agora vão virar comidas dos cachorros de meu pai. Há, há, há...
A risada de tia saiu igualzinho a do bruxo. Foi um chororô geral. Apenas Cacá não se deixou envolver. Disse bem alto:
- Isso é mentira! Eu duvido que essa tia faça alguma coisa para nos machucar! Essa é a mentira que protege a quinta ponta da estrela. Se acreditarmos, tia será bruxa das trevas para sempre e nós comida de cachorros.
Ao dizer isso as outras quatro pontas da estrela saíram destruindo os cães que tinham sido transformados em pedras. Ao acertar um cachorro vira-lata, A quinta parte da estrela formou-se, junto com as outras, em uma estrela da cor do arco-íris e falou: Vocês têm o direito de ir para onde vocês quiserem e quando lá chegar, pode fazer mais um pedido.
- Queremos ir para a sala de aula! Todos de uma só voz.


O pó de luz

Quando abrimos o olho, já estávamos sentados dentro da sala. A estrela estava dentro da pérola de cristal no anel de tia.
- E agora, tia? São cinco horas em ponto. Temos que fazer logo esse pedido.
Disse Grude morrendo de medo de não dar mais tempo e ser transformado em barata cascuda. Lá fora, tudo escureceu com uma nuvem de baratas cascudas que vinha para invadir a nossa sala, quando tia disse bem rápido:
- Desejo que o bruxo Pif-Paf volte para o mundo das trevas e liberte todos que ele prendeu!
A nuvem de baratas rapidamente sumiu. Algumas se transformaram em crianças que estava há algum tempo desaparecidas. Nesse exato momento Abigail e Abel aparecem na porta da sala.
- Olá, pessoal! Tudo bem com vocês? Acho que vocês não precisam mais de ajuda.
Disse Abigail olhando por todos os lados a procura de gogó.
- Onde está Gogó?
Abel perguntou e ficamos apreensivos, com medo que o bruxo tivesse matado o passarinho Gogó. Quando ouvimos um silvo muito bonito.
- Gogó! Como você está bonito.
Gogó quando batia as asas, uma poeira de ouro invadia toda a sala. Abi, Gogó e Abel despediram-se de nós. Abigail pediu o seu anel à tia. Já na saída, voltou e deu um sopro no anel e uma poeira entrou nos olhos de cada um de nós colocando bem dentro da íris uma luz que só apagará quando deixarmos de imaginar. E em pensamento Gogó nos revelou:
-Ouçam a sua professora! É ela que vai ensinar vocês a sonhar, desejar, imaginar e realizar.
Tia fechou o livro da capa vermelha e preta e gritou:
- Trancoso! Acorde para ir embora. Você perdeu toda a história da estrela de cinco pontas. A aula terminou. Arrumamos os bancos e fomos embora. E fiquei na dúvida se essa história aconteceu mesmo ou se eu dormi e sonhei com toda essa aventura!? Quando eu estava descendo as escadas, que vi uma barata cascuda... Foi uma carreira só.




Wilson Palá